segunda-feira, 22 de julho de 2013

Seleção Brasileira - 1991/93 - O gigante do futebol acordava!

30 de Outubro de 1991. Naquele mês, o Papa João Paulo II havia vindo ao Brasil pela 2a vez na história, depois de 11 anos. A Croácia havia declarado sua independência da Iugoslávia, algo que a vizinha Eslovênia já havia feito em Junho do mesmo ano, e que ocasionaria o início de um conflito sangrento nos Bálcãs que duraria mais 4 anos. A União Soviética se desfazia lentamente. E um mês antes, um certo disco com um bebê nu nadando atrás de uma nota de dólar era lançado. "Nevermind", do Nirvana, estreava com músicas que eternizariam o rock e o movimento grunge.


O futebol brasileiro via nascer um supertime: o São Paulo de Telê Santana. Após 2 vices consecutivos, o Tricolor Paulista conquistava o Brasileirão (que na época era disputado no 1o Semestre) em cima do surpreendente Bragantino. O time ainda consagraria-se Campeão Paulista no fim do ano. A Copa do Brasil foi vencida pelo histórico Criciúma de Jairo Lenzi e do atual técnico da Seleção, Luiz Felipe Scolari. O time comandado pelo Felipão venceu o copeiro Grêmio e conseguiu o direito de disputar a Libertadores em 1992.

Mas no âmbito internacional, as coisas não andavam bem. Corinthians e Flamengo foram eliminados da Taça Libertadores consecutivamente pelo Boca Juniors do goleiro Navarro Montoya e de um jovem chamado Gabriel Omar Batistuta. O Colo Colo acabaria dando ao Chile seu primeiro (e até hoje, o único) título de Libertadores. O Cruzeiro foi o alento brasileiro, ao ser campeão da Supercopa da Libertadores, torneio disputado apenas pelos campeões da América do Sul. Derrotou o River Plate, após sair perdendo por 2x0 em Buenos Aires, e revertendo com 3x0 no Mineirão.

21 anos se passaram desde que o Brasil havia ganho sua última Copa do Mundo. Ainda era vívida a lembrança do gol argentino de Caniggia que havia eliminado a Seleção de Lazaroni na Itália em 90. E as coisas ficaram piores quando o ex-jogador Falcão assumiu o cargo. Defendendo o título de 1989, quando o torneio foi disputado no Brasil, a Copa América no Chile era uma chance de tirar a Seleção da crise. Na 1a fase, o Brasil venceu 2 de seus 5 jogos, empatou 1 e perdeu apenas para a Colômbia de Higuita, Escobar, Rincón e Valderrama. Passou em 2o lugar, atrás da própria Seleção Colombiana.

Porém, na segunda fase, disputada entre os 4 melhores times da competição, uma derrota para a carrasca Argentina por 3x2 no 1o jogo complicava a vida da Seleção. Mesmo assim, conseguiram vencer a Colômbia e chegou na última rodada necessitando vencer o Chile e torcer por uma vitória colombiana sobre os portenhos. O Brasil venceu por 2x0 os donos da casa, mas a Argentina superou a Colômbia e foi campeã da América do Sul. Mesmo sem o astro Maradona, que já começava a protagonizar a polêmica com as drogas.


A derrota custou o cargo de Falcão na Seleção, e no jogo seguinte, um amistoso contra o País de Gales, o técnico foi Ernesto Paulo. Mesmo jogando na casa do rival, a derrota de 1x0 foi um sinal vermelho. A crise estava reinando na Seleção Brasileira e quase ninguém acreditava que aquele time ganharia alguma coisa importante em 1994, ano da próxima Copa.

Foi então chegada a época de uma renovação. O técnico Carlos Alberto Parreira foi chamado para assumir o Brasil. E no jogo em que estrearia, contra a Iugoslávia, o Brasil também renovava o visual de seu uniforme. O velho uniforme de pano da Topper utilizado desde 1990 seria substituído. E o escudo da CBF voltaria a ser igual a como era antes de 1981, aposentando o outro distintivo que levava o desenho da Taça Jules Rimet em seu interior.

E então, a camisa do Brasil sofria uma das maiores mudanças de sua história. Entra em cena um dos uniformes mais diferentes da história da Seleção Brasileira, feito pela mesma Umbro que forneceu as camisas daquele ano vitorioso de 1970. Porém, ao invés de tradicionalismo, viu-se a ousadia do design que era muito comum no início dos anos 90. Esse é o uniforme escolhido da Mantoteca para hoje:


Este uniforme era de um grande amigo meu, então subornei-o com uma camisa do Flamengo de 2011 com o nome do Ronaldinho nas costas (em 2011 mesmo - quando a torcida do Fla ainda acreditava que o Dentuço seria o salvador da pátria). Ele trocou a camisa nova do Flamengo por essa do Brasil, além de uma camisa do Flamengo de 1995, uma do Milan de 1995 e outra da Alemanha da Copa de 1994. Uma troca 1 por 4 que foi boa para as duas partes.

Voltando a falar sobre o uniforme lançado em Outubro de 1991 pela Umbro. O uniforme, além de resgatar o logotipo clássico da CBF, tinha uma gola pólo um pouco extravagante, com todas as 4 cores da bandeira nacional. Além de várias marcas d'água em forma de bandeiras tremulantes com a palavra "BRASIL" dentro. Também pode somar-se o logo na manga direita, uma mistura do diamante da Umbro com as palavras "CBF". Além do amarelo, mais claro do que o usual. Muitos odiaram, outros gostaram.


Abaixo, uma matéria do Esporte Espetacular (que não tinha aquelas palhaçadinhas de João Sorrisão na época, era um programa mais sério) que fala sobre o novo uniforme. A partir dos 54 segundos:

Esporte Espetacular falando sobre o uniforme do Brasil em 1991

A estreia do uniforme foi contra a Iugoslávia, que possuía em sua base o time do Estrela Vermelha de Belgrado, que protagonizara uma zebra histórica naquele ano de 91, ao vencer a Liga dos Campeões da Europa sobre o Olympique de Marselha, que tinha deixado o poderoso Milan de Van Basten para trás. E foi na data que inicia esta postagem da Mantoteca que a partida ocorreu: 30 de Outubro.

O Brasil, com jogadores como Raí, Bebeto, Cafu, Müller e Renato Gaúcho, venceu a partida por 3x1, disputada em Varginha, cidade próxima ao local de nascimento de Pelé, Três Corações, em Minas Gerais. Sim, a mesma cidade de Varginha que seria conhecida pela suposta aparição de um extraterrestre 5 anos depois. O ano de 91 ainda teria mais um amistoso em Dezembro contra a já fadada à extinção Checoslováquia (no início de 1992, República Checa e Eslováquia se separariam). Vitória brasileira por 2x1 jogando em Goiânia.

1992 começou prometendo ser um ano de novidades. A União Soviética acabou, a guerra estourava nos Bálcãs (o que tirou a vaga da Iugoslávia na Eurocopa daquele ano, sendo substituída pela Dinamarca, que ganharia o torneio), e o governo de Fernando Collor tentava em vão controlar a hiperinflação que galopava com ferocidade, desvalorizando cada vez mais o ressuscitado Cruzeiro em pouco menos de 2 anos.

Na Seleção, más notícias. O Brasil não se classificou para as Olimpíadas de Barcelona. Mas a Seleção Principal continuava sua série de vitórias iniciada depois da estreia do novo uniforme (e da chegada de Parreira). Vitórias de 3x0 contra os EUA de Meola, Balboa e Tab Ramos (nomes que se tornariam mundialmente conhecidos em 1994) e 3x1 contra a Finlândia de Jari Litmanen elevavam um pouco o otimismo. Mas quando enfrentou a primeira seleção qualificada, e jogando fora do país, perdeu: vitória do Uruguai comandado por Luis Cubilla por 1x0 em Montevidéu.

Abaixo, o vídeo com a vitória sobre a Finlândia:


O Brasil voltaria a enfrentar outros adversários qualificados: empatou com a Inglaterra em Wembley por 1x1, o Milan (é um clube, mas na época fazia frente a muita seleção!) por 1x0 no San Siro. Depois disso, disputaria um torneio amistoso nos EUA, goleando por 5x0 o México de Jorge Campos, e sairiam campeões vencendo novamente os norte-americanos naquele ano, por 1x0.

Brasil 1x1 Inglaterra:


A Seleção, já na metade de 1992, começava a engrenar novamente, pelo menos nos amistosos. Naquela altura do campeonato, o escândalo que levaria Collor ao impeachment no final do ano já estava sendo amplamente divulgado pela imprensa. Ayrton Senna tentava brigar pelo Tetra Mundial na F1 pela McLaren, mas a Williams com sua supermáquina dirigida por Nigel Mansell abria vantagem. O vôlei de ouro do Brasil encantava nos Jogos Olímpicos. E no âmbito dos clubes, uma felicidade internacional importante depois de muito tempo: o São Paulo sagrava-se campeão da Taça Libertadores pela primeira vez. Desde o Grêmio em 1983 que nenhum brasileiro levava a competição mais importante do continente.

O Brasil ainda aprontaria naquele ano: venceria a França por 2x0 em pleno Parque dos Príncipes, em Paris (depois disso, a França se tornaria uma grande pedra no sapato do Brasil - já descontando a eliminação de 86 - vieram derrotas brasileiras como a da final de 98 e a das quartas de 2006, além de uma invencibilidade francesa que durou até 2013). Enfrentou a Costa Rica e venceu por 4x2. Mas esbarrou no Uruguai, de novo, perdendo em território nacional, na cidade de Campina Grande, na Paraíba. 2x1 para o escrete "charrua", embora a Seleção Brasileira estivesse desfalcada dos jogadores que jogam fora do país. O curioso é que no mesmo dia o Cruzeiro foi bicampeão da Supercopa da Libertadores, em cima do Racing da Argentina. É importante ressaltar isso para mostrar que não é de hoje que a desorganizada Conmebol não pensa na hora de marcar partidas importantes (vide as finais da Libertadores e da Recopa neste ano de 2013), os dois jogos foram quase no mesmo horário!

Brasil x Uruguai:


No fim do ano, ainda haveria uma boa vitória para comemorar. Um 3x1 sobre a detentora do título de Campeão Mundial, vitória brasileira sobre a Alemanha de Illgner, Matthäus, Sammer e Klinsmann, jogando em Porto Alegre e já contando com os jogadores que atuavam na Europa, como Jorginho, Bebeto, Careca e Romário.


1993 começou de forma trágica. Na véspera do fim de ano, a atriz Daniella Perez, filha da escritora Glória Perez, era assassinada pelo ator Guilherme de Pádua na Barra da Tijuca. Os dois formavam um par romântico na novela das 8 da Rede Globo: "De Corpo e Alma". Até hoje, este crime ainda é enigmático. Aquele começo de ano também foi marcado por outro fato: Itamar Franco e seu topete assumiam a presidência da República no lugar do renunciado Collor. A inflação continuava atacando ferozmente os bolsos brasileiros. E 1994 se aproximava, ano de novas eleições, ano de Copa, ano de mudanças?

E a Seleção de Parreira, já caracterizada pelo seu estilo "europeu", mais retrancado, continuava no labor. Em fevereiro, amistoso contra a Argentina, em Buenos Aires. Um empate em 1x1. Em Março, amistoso contra a Polônia em Ribeirão Preto: outro empate, 2x2. O Brasil pode ter melhorado, mas ainda era visto com muita desconfiança pela torcida. 1993 era ano de Copa América e, mais do que isso, das Eliminatórias para a Copa de 1994.

Brasil x Argentina:



Junho de 1993. O Brasil foi convidado para a US Cup, torneio amistoso disputado na sede da Copa do Mundo que viria: os Estados Unidos. Já era o 3º jogo contra os norte-americanos em menos de dois anos. E foi a 3a vitória: 2x0. Também no mesmo torneio, o Brasil enfrentou a Alemanha novamente, protagonizando um empate digno de dois gigantes do futebol mundial: 3x3. O torneio era disputado por pontos corridos, e o Brasil precisava vencer a Inglaterra e torcer por uma derrota alemã perante os EUA. O Brasil não fez sua parte: empatou com os ingleses em 1x1. Já os alemães venciam os EUA e ganhavam o troféu amistoso, já que também ganhariam da Inglaterra. Naquela época, estava claro que a Alemanha entraria em 1994 como favorita. Já o Brasil...

Vídeo do confronto entre Brasil X Alemanha:

Se o Brasil não dava pinta que chegaria longe em 1994, os clubes brasileiros encantavam. O São Paulo, que havia vencido o "Dream Team" do Barcelona na final do Mundial de Clubes de 1992, vencia consecutivamente sua segunda Libertadores (algo que não ocorre desde então). O Palmeiras montava um esquadrão com o dinheiro da Parmalat e também prometia alegrias aos seus torcedores.

Então a Copa América do Equador começou. O fato de só jogadores atuantes no Brasil terem sido convocados, já que os que jogam na Europa foram poupados, não era desculpa. Os times brasileiros estavam se fortalecendo naquela época. O 1º jogo foi contra o Peru, e logo uma decepção: empate por 0x0. Logo depois, outro golpe: derrota por 3x2 para o Chile, que tinha o Sierra em seu plantel (ídolo e atual técnico da Unión Española de Santiago, teria uma passagem fracassada pelo SPFC em 1995). Para passar de fase, era necessário vencer ou vencer o Paraguai de Chilavert. O Brasil ganhou de 3x0, gols de Palhinha (SPFC) e do "animal" Edmundo (Palmeiras). O Brasil classificava-se em 2o lugar no seu grupo, atrás apenas dos peruanos.

Vídeo da derrota para o Chile:


Nas quartas-de-final, era chegada a hora de vingar-se da Argentina, que cada vez mais tornava o seu vizinho de cima um freguês mais fiel. O são-paulino Müller abriu o placar, mas Leo Rodríguez empataria o jogo e levaria as definições para os pênaltis. Todos os dois times acertaram as suas cobranças na 1a parte, levando a disputa para as cobranças alternadas, onde um pênalti perdido contra outro marcado significa a eliminação imediata. Luisinho (Vasco da Gama) acertou, e Medina Bello (River Plate) também. Mais uma cobrança. Marco Antônio Boiadeiro, do Cruzeiro bicampeão da Supercopa, tinha a chance de fazer a Seleção brilhar internacionalmente. Porém, bateu muito mal, no meio do gol, e Goycoechea apenas fez o básico: defendeu. Por ironia do destino, Borelli, do Racing que havia perdido a Supercopa para o Cruzeiro de Boiadeiro no ano anterior, foi para a cobrança derradeira. Zetti não teve chance e o Brasil caiu pela 3a vez seguida para a Argentina num torneio internacional oficial.

Jogo completo:


O Brasil amargava seu primeiro grande fracasso com Parreira, depois de sua volta em 91. E a Argentina, que nada tinha a ver com isso, passou pela Colômbia (também nos pênaltis) e venceu o México por 2x1 na final, sendo mais uma vez campeã da Copa América. Por sinal, o último título da seleção principal dos "hermanos" até hoje.

No mês de Julho, começava as Eliminatórias para a Copa. O grupo em que o Brasil se encontrava apenas aparentava ter o Uruguai como ameaça. Equador, Bolívia e Venezuela não eram o suficiente para amedrontar aquela seleção que nunca havia perdido um jogo sequer de Eliminatórias na história.

Antes disso, o Brasil ainda teve tempo de fazer um amistoso contra o Paraguai, jogando em São Januário, no Rio de Janeiro. Com gols de Branco e Bebeto, veio a vitória por 2x0. Aquela seleção que não encantava também não dava sinais de que perderia uma vaga para a Copa.

O primeiro jogo seria contra a seleção equatoriana, em Guayaquil, facilitando o trabalho do time, já que a cidade fica ao nível do mar, ao contrário da capital, Quito, onde a altitude poderia atrapalhar. Mesmo assim, o Brasil não passou de um decepcionante 0x0.

O próximo jogo seria mais complicado. A Bolívia sempre foi uma seleção fraca, mas a altitude de La Paz era um obstáculo gigantesco para qualquer time. O Brasil tinha a invencibilidade nas Eliminatórias ao seu favor. E o jogo começou. O Brasil sentiu os efeitos da altitude e jogou mal, mesmo com jogadores já experientes como Jorginho, Branco, Dunga, Zinho, Bebeto, Careca e Evair. O primeiro sinal veio no pênalti cobrado por Marco Etcheverry (também conhecido como "El Diablo"). Mas Taffarel, que fazia uma excelente partida, defendeu a cobrança.

Porém, o herói Taffarel viraria um vilão cinematográfico aos 43 do segundo tempo. Com a perna esquerda, o goleiro mandou para dentro do gol um chute cruzado totalmente defensável de "El Diablo". Bolívia 1x0. E contrariando Tiririca, as coisas ficaram pior do que estavam. Um minuto depois, Peña, cara a cara com Taffarel, marcou o segundo tento. Fim de festa: 2x0. A Bolívia não era mais aquele time fraco, e soube se aproveitar do fator altitude como nunca. E o Brasil parecia já anunciar o desastre que não era mais improvável. Seria 1994 a primeira Copa sem a "Seleção Canarinho"?


A crise na Seleção Brasileira chegou. Assim como a crise que assolava o país naquele inicio de anos 90. Numa época em que até o Fusca foi ressuscitado pelo Itamar como opção de carro barato. Numa época em que bom mesmo era ver Antônio Fagundes interpretando o Coronel José Inocêncio na novela das 8 "Renascer". Numa época em que o pagode romântico de grupos como o "Raça Negra" e o "Só Pra Contrariar" estouravam nas paradas e eram obrigatórios em todos os churrascos de domingo.


As eliminatórias continuavam. E o Brasil se via obrigado a vencer a fraca Venezuela na casa deles. Um passeio brasileiro: 5x1. Ainda houve tempo de fazer um amistoso em Maceió: 1x1 com o México. O próximo jogo prometia ser extremamente complicado. Enfrentar o Uruguai no Estádio Centenário era algo muito difícil. E a Seleção não andava bem das pernas. A não convocação de Romário, alegada pela Comissão Técnica do Brasil por causa da indisciplina do jogador, causava comoção nacional. O Baixinho estava indo muito bem na Europa, acabara de deixar o PSV da Holanda para se juntar ao Dream Team do Barcelona comandado por Cruyff e formar um ataque letal ao lado do búlgaro Hristo Stoitchkov.


Para os pessimistas, o resultado em Montevidéu foi lucro: empate em 1x1 para um time que vinha de derrotas consecutivas para a Seleção Celeste. Mas era bom que as vitórias voltassem logo. E voltaram, quando o Brasil venceu o Equador no Morumbi, em São Paulo, pelo placar de 2x0. Não era o bastante ainda, mais vitórias teriam que vir. A Bolívia fazia sua parte na altitude e o Uruguai vencia de forma mais convincente seus jogos. O Brasil ainda corria sérios riscos de ser eliminado.


Em Recife, era hora de pegar a Bolívia novamente. O time boliviano dessa vez não tinha a altitude para ajudar. E, ao nível do mar, os andinos foram massacrados: 6x0 para o Brasil. Ainda não era motivo de alívio, o Uruguai fazia a sua parte e despontava como a maior ameaça à classificação brasileira para 1994.


Mesmo voltando a vencer, a torcida brasileira não estava nem um pouco agradada pelo modo de jogar da Seleção. O estilo imposto por Parreira, um futebol mais pegado, adverso ao futebol-arte que tanto caracterizou a história da Seleção Brasileira, irritava os torcedores. Além do veto à Romário, que já ganhava campanha nacional para ser convocado.

Ainda assim, o Brasil continua seguindo seu caminho de vitórias. O penúltimo jogo das eliminatórias, contra a Venezuela, em Belo Horizonte, seria fundamental. Vitória incontestável por 4x0, gols de Ricardo Gomes (2), Palhinha e Evair. O Brasil chegava ao derradeiro jogo contra o Uruguai OBRIGADO a vencer, já que a Celeste Olímpica também havia vencido o seu compromisso contra o Equador. Caso o Brasil perdesse, teria que torcer por uma derrota da Bolívia no Equador, pois apenas o empate neste jogo já seria suficiente para colocar o time boliviano e o Uruguai na Copa.

O Uruguai possuía um bom time, com nomes como Kanapkis, Ruben Sosa e Enzo Francescoli, simplesmente o jogador que inspirou Zinedine Zidane, segundo o próprio. E o fato de o jogo ser no Maracanã já causava calafrios. Um novo "Maracanazo" seria um desastre, talvez até sepultasse a reputação conquistada pela Seleção entre os anos 50 e 70. Já eram 23 anos sem título de Copa do Mundo, e nesse intervalo de tempo tivemos a rival Argentina ganhando duas vezes, e Itália e Alemanha igualando o feito brasileiro de 1970: ambos os europeus atingiram o Tri Mundial.

19 de Setembro de 1993. O Maracanã estava lotado. Não como em 1950, quando mais de 200 mil cabeças viram o maior desastre da História do Futebol Brasileiro. Talvez como em 1989, quando Romário garantiu o último título importante daquela Seleção, na vitória por 1x0 na Copa América. Mas de uma coisa é certa: aquele jogo, não importasse o resultado, também entraria para a História.

Finalmente Romário voltava à Seleção. Mas o temor de um desastre como 1950 deixava aquele jogo tenso. Os supersticiosos se agarravam no fato de o Brasil ter perdido um jogo de eliminatórias pela primeira vez naquele ano, o que de certa forma assustava. Mas futebol se decide em campo. E então, num Maraca abarrotado de gente vestida de amarelo, o juiz peruano Alberto Tejada apitava o início do jogo.

O Brasil atacou muito. Romário estava sendo o destaque do jogo. Mas a bola não entrava. Em alguns poucos contra-ataques o Uruguai chegava com perigo. O Uruguai fazia seu jogo violento para impedir os ataques brasileiros e segurar o jogo. E conseguiu, pelo menos no 1o tempo.

No 2o tempo, o panorama do jogo não mudou. Muitos gols perdidos, a maioria pelo Brasil. Enquanto isso, a Bolívia conseguia sair na frente no jogo contra o Equador. A notícia chegava ao Maracanã através dos radinhos de pilha. Se o Uruguai conseguisse fazer um improvável gol, o sonho da Copa de 1994 seria soterrado. Já haviam se passado mais de 25 minutos do 2o tempo, quando Bebeto, avançando pela ponta-direita, cruzou para o centro da área. Um gigante chamado Romário subiu mais que o marcador e cabeceou para baixo, sem chances para o goleiro Siboldi. O Brasil abria 1x0. Gol do ídolo Romário, que a torcida tanto pediu. A dupla Romário e Bebeto já havia se mostrado eficiente em 1989, e novamente os dois mostravam o seu valor na Seleção.

A partir daquele 27º minuto do 2o tempo, quando saiu o 1º gol do Brasil, todo o temor de um desastre começou a ficar para trás. O Equador também empatava com a Bolívia, o que dava a liderança de seu grupo das Eliminatórias para o Brasil. E, por consequência, eliminava o Uruguai da Copa. Era questão de tempo até sair o 2o gol. E saiu, depois que Romário deu um drible no goleiro Siboldi e só fez o básico: empurrar para o fundo das redes.

O Maracanã entrou em frenesi. O Brasil estava classificado para a Copa do Mundo de 1994. A escrita de participar em todos os Mundiais (mantida até hoje) continuava intacta. Mesmo a derrota para a Alemanha por 2x1 num jogo na cidade alemã de Colônia num amistoso não abalaria aquele momento. E ainda houve um último jogo em 1993, uma vitória simples contra o México, jogando em Guadalajara. Foi o último jogo que o Brasil trajou a camisa mostrada aqui na nossa Mantoteca. Em 94, um modelo semelhante da Umbro, com marcas d'água do escudo da CBF na parte frontal, seria a camisa utilizada na Copa. E aquela camisa, como todos sabem, também seria histórica. Tão histórica quanto as de 58, 62, 70 e, posteriormente, 2002. Seria a camisa do Tetracampeonato Mundial, dando fim a 24 anos de jejum e marcando a volta do Brasil ao topo. Mas aí já é outra história

Obrigado por lerem mais esse artigo! Continuem acompanhando as histórias da Mantoteca, cada camisa, um novo conto!





Vídeo da "decisão" contra o Uruguai:
Alemanha 2x1 Brasil:



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