terça-feira, 20 de outubro de 2015

De Volta Para o Futuro - A história das camisas de futebol em 1985 e 2015

   Olá pessoal!
   Provavelmente o leitor já assistiu alguma vez na vida a clássica trilogia de filmes "De Volta Para o Futuro", de Robert Zemeckis. Muitos vão se lembrar do incrível DMC DeLorean que foi a inusitada máquina do tempo e um dos símbolos da série. E também se lembrarão que no segundo filme Marty McFly e o Doutor Brown resolvem parar... em 21 de Outubro de 2015, ou seja, EXATAMENTE HOJE.


 
   21 de Outubro de 2015 (além de ser aniversário de quem vos digita, espero meu bolo e minha cerveja hehe) é o dia em que se passa o segundo filme, aonde nós podemos ver o "futuro" idealizado pelo pessoal de 1989 (ano de lançamento), tempos de fim da Guerra Fria, Bush pai presidente e Fernando Collor de Mello eleito no Brasil. Lembranças à parte, o filme prevê um futuro com pessoas andando com skates voadores (o hoverboard), autoestradas cruzando o céu com carros voadores, tênis que se amarram sozinhos e outros absurdos que não saíram dos testes de laboratório até hoje, mas também acerta ao mostrar um óculos que pode ver informações (Google Glass, é você?), um tablet na mão de um transeunte, as franquias de filmes que não acabam nunca ("Tubarão 19") e a onda retrô anos 80 (quem lembra da cena do barzinho com o Michael Jackson - saudades - de barman virtual?).

   Mas como o blog é de camisas, vamos falar delas. Como as camisas de futebol do futuro eram idealizadas em 1985? Eu não sei, mas sabemos como elas evoluíram. Vamos começar com a camisa do atual Campeão da América, o River Plate:



   A Adidas era extremamente popular no fornecimento de camisas em 85. Para se ter uma ideia, até os times pequenos brasileiros recebiam o fardamento da marca das três listras. Como podemos ver, o River está usando um escudo diferente, com o desenho de um leão gigante saindo do Estádio Monumental de Nuñez. Esse distintivo se tornaria popular um ano depois, sendo usado na camisa em que o time portenho venceu sua primeira Libertadores. Mas não durou muito tempo, saindo do uniforme ainda no fim dos anos 80 e sendo substituído pelo escudo tradicional, que está até hoje na camisa. 

 
   Essa é a camisa do River 2015, que foi lançada ano passado, fazendo parte de uma campanha vitoriosa em que engloba a Sulamericana 2014, a Recopa 2015 e por fim, a Libertadores atual. As 3 listras da Adidas estão numa disposição incomum em relação aos uniformes de 85 (muitas vezes alguns times nem as tinha - o que deixava a camisa mais limpa visualmente), criada na metade dos anos 90 e usada no uniforme do time alvirrubro também em 1996, ano da segunda Libertadores. Outra diferença óbvia é o tecido, no lugar do acrílico (o famoso "pano"), a mistura de algodão com tecido sintético que forma a malha Climacool, com alguns furinhos para circular melhor o ar. Além do logotipo da Adidas Performance, o triângulo formado pelas 3 listras, que apareceu em 1991 e substituiu o logotipo "Trefoil" de vez nas camisas de jogo em 1998. O logo antigo da Adidas agora apenas aparece em sua linha "Originals".

   Se eu falei do campeão da América, nada mais justo falar do campeão europeu. O Barcelona é o atual detentor da Liga dos Campeões da Europa, ironicamente em cima do campeão de 1985, a Juventus. Mas em 85, numa época em que nunca havia encostado o dedo na taça da UCL (só o faria sete anos depois), o Barça também portava uma camisa muito diferente da atual. Tradicional listrada "blaugrana" na vertical, azul e grená, detalhes amarelos apenas no escudo, e uma fornecedora catalã: a Meyba (que também confeccionou uniformes para o Atlético de Madrid). Essa camisa acima foi lançada em 1984 e duraria até 1989, algo surreal hoje em dia quando os times mudam de uniforme obrigatoriamente todo ano.


   E voltamos para o futuro, digo, presente. O torcedor "culé" que veio em seu DeLorean partindo de 1985 pode até se encantar com o imenso poder que seu time ganhou nos últimos 30 anos, mas certamente está horrorizado ao ver as listras verticais do seu Barcelona terem se tornado horizontais pela primeira vez na história do futebol do clube (o basquete já usava). A Nike em 1985 era praticamente inexistente no mundo futebolístico, fornecia pouquíssimos times, como por exemplo o Sunderland da Inglaterra, porém investiu bastante no esporte bretão nos últimos anos, tornando-se uma gigante indiscutível do futebol.
   A marca americana entrou no Barça em 1998 e foi modificando o tradicional uniforme, escurecendo o tom de azul, acrescentando sempre um detalhe amarelo e vermelho que remete à bandeira da Catalunha, além de outros pontos amarelos na camisa, nesse caso as barras laterais, o símbolo da fornecedora e o da Unicef na parte de trás e a fonte de numeração. Enquanto o Barça não amarelava mais em campo, a Nike sempre deixa seus pontinhos amarelos na camisa "blaugrana".
   Outro detalhe que o torcedor catalão deve repudiar é o patrocínio na indumentária. O Barcelona passou anos sem patrocinador na camisa e isso era motivo de orgulho. Em 2006, num ato de solidariedade, o logo da Unicef foi acrescentado à frente do uniforme para demonstrar que o clube apoia financeiramente a instituição. Porém, em 2013 o dinheiro falou mais alto e a Qatar Airways foi o primeiro patrocinador a estampar o seu nome na camisa antes intocável.






  Nos anos 80, as marcas que ditavam a moda nos uniformes eram diferentes. O Chelsea, nem de longe tão poderoso quanto hoje, era fornecido pela francesa Le Coq Sportif (que também patrocinava o Zico na época). A marca também vestia grandes equipes como o Fluminense Campeão Brasileiro de 1984 e Tri Carioca em 85, e, claro, a Argentina de Maradona que ganharia o Bi Mundial em 86. A marca perdeu força, mas tenta recuperar o fôlego voltando à ativa, em times como a Fiorentina.




   Hoje o Chelsea é bilionário, time de bacana, campeão da UCL, uma das principais marcas do catálogo da Adidas, que fez para essa temporada um uniforme que remete aos velhos tempos, com detalhes vermelhos na gola e nas mangas, algo que era banal nos anos 80 em Stamford Bridge.




   Em 1985 o uniforme titular alemão só podia ter duas cores: preto e branco, as cores da bandeira da antiga Prússia. A Adidas da Europa já possuía uma tecnologia melhor que a filial da América do Sul, sendo capaz de produzir camisas estampadas e com tecido sintético naquela época, o que viria apenas a se popularizar no Brasil no começo dos anos 90.





  As cores da atual bandeira alemã só foram aparecer no uniforme em 1986, reduzidos a pequenos detalhes na gola e nas mangas. Em 1988 as três cores da bandeira resolveram tomar conta da camisa, o que originou este clássico do vestuário futebolístico usado no Tri Mundial em 1990. E desde então a camisa da Alemanha sempre tem detalhes em vermelho e dourado, sejam pequenos ou bem visíveis, como no uniforme atual, que marcou a conquista do Tetra ano passado. Destaque para os horrendos calções brancos titulares, impensáveis em 1985 e que vão voltar a ser pretos ano que vem para a Euro.





   Falando de Alemanha, impossível deixar de falar do Brasil. Numa época em que tomar 7x1 de alguém em casa numa semifinal de Copa do Mundo era literalmente roteiro de filme, o Brasil vestia um uniforme muito parecido com o do timaço de 1982, com diferença apenas no logotipo da Topper que saiu da manga e foi para o peito. O escudo da CBF, com a Taça Jules Rimet e o ramo de café, é outro marco daquela época. Foi criado em 1981 e acabou aposentado 10 anos depois. E era fornecido por uma empresa nacional: a Topper, que também cuidava do Corinthians da época. Hoje em dia, a Topper, além do logotipo diferente, está mais presente na Argentina em times como o Racing do que no próprio Brasil, onde fornecia o Grêmio até ano passado.





 
O Brasil quebrou o jejum de 24 anos, foi Tetra em 1994 e Penta em 2002. E agora? Todos nós sabemos que uma grande crise assola o futebol brasileiro. O 7x1 de 2014 marcou definitivamente essa camisa acima, que mesmo depois do vexame não foi aposentada até agora. A Nike, parceira da CBF desde 97, deixou o amarelo da Seleção Brasileira mais claro, ao contrário do amarelo mais forte dos anos 80, além de escurecer o azul dos calções, que na época eram mais celestes. E na camisa de 2014/15 ainda inventou essa gola em "Y" que particularmente acho tão feia quanto o futebol que o escrete brasileiro anda jogando. A mesma Nike que acabou com uma parceria que em 1985 parecia que nunca teria fim.


 
   Desde 1966 (após uma interrupção entre 74 e 84 pela Admiral), a Inglaterra teve seus uniformes feitos pela Umbro. Esse era o modelo usado em 1985 e também na Copa de 86 (vítima do golaço do Maradona). Até 2012 parecia que a parceria duraria mesmo para sempre, quando a Nike, dona da Umbro na época, resolveu assumir o comando do "English Team". A Umbro logo em seguida foi vendida, mas até hoje os ingleses usam a marca dos americanos, e deverão usar por mais alguns anos. Mas mesmo não sendo mais uma camisa da marca dos dois diamantes, a Nike soube dar um tom sóbrio ao uniforme atual do jeito que a Umbro gostava de dar



  Em 1985, o Corinthians possuía apenas duas opções de camisas. Ou era branco ou era o tradicional preto de listras finas. A Kalunga começava a estampar sua marca no uniforme do Timão naquele ano (e ficaria mais nove ali).


  É certeza que o corintiano que chegar lá de 85, de carona com o Marty McFly, vai ficar feliz demais ao ver que seu time ganhou cinco títulos Brasileiros (e o sexto está quase vindo), dois Mundiais de Clubes e uma Libertadores. Mas terá um saudosismo imenso quando olhar para a camisa que seu time do coração está usando neste ano.






   Certamente ele vai ter um acesso de raiva ao ver que seu Timão está usando uma camisa com mangas pretas (ele não viu o Mundial de 2000, por isso não entenderá) e numeração dourada. Mas o que vai deixar o nosso corintiano do passado furioso de verdade será o momento em que ele ver o terceiro uniforme desse ano, moda que começou nos anos 80 na Europa e hoje é mandatória em praticamente todos os lugares.


  LARANJA? Você tenta acalmar o torcedor do passado, falando que é homenagem ao Terrão (mesmo que ele contra-argumente com razão que o uniforme deveria ser marrom). Então ele acaba descobrindo que nesses últimos anos o Corinthians vestiu roxo, roxo com preto e dourado, preto com roxo e dourado, grená, cinza, até mesmo azul. "Daqui a pouco vamos ter um uniforme verde que nem o Palmeiras", diz ele. E quem somos nós para duvidar de sua premonição?

  Esse foi o post mostrando como o futuro veio nos uniformes do nosso futebol. E você, o que acha que virá nos próximos 30 anos? Flamengo com listras verticais, Corinthians de verde, Atlético Mineiro de azul e branco, ou até mesmo o México usando preto (opa, esse já existe)... são muitas indagações, afinal o futuro não nos pertence. Ainda.

Então vamos colocar nossas camisas do jogo da vida e partir para cima desse adversário tão indecifrável, o tempo!