quinta-feira, 25 de julho de 2013

Post de Honra - ATLÉTICO MINEIRO - Centenário 2008


Na nossa 1a semana de Mantoteca, já faremos uma homenagem.

O assunto da semana. O Campeão da Libertadores.

Clube Atlético Mineiro



O parabéns fica ao critério de vocês. Pq muitos aqui estavam torcendo contra (futebol sem rivalidade não existe). Então quem quiser ler a história especial de hoje, prossigam. Os que estão p... da vida e não aguentam mais ver coisa sobre o alvinegro das Alterosas, podem fechar a janela e xingar com todo o seu ódio. Eu sei o que é secar. E sei como é horrível quando a secação falha. Entendo vocês

No caso, pego uma camisa que esteve por apenas 1 semana na minha Mantoteca, no início desse ano, antes da Libertadores começar. E, por ironia do destino, foi negociada com um são-paulino. Por isso que não costumo incluir na minha coleção definitiva camisas de times rivais do meu... essa aqui só esteve para negócio, como a do Vasco (cuja história já contei no 2o post desse Blog)

E é uma camisa muito valiosa do Galo. Por coincidência, nas costas dela estava o número 13. O número do ano em que o tão sonhado título da Libertadores veio. Talvez um presságio?


Mas não falarei mais de Libertadores. Vou falar de 2008. Ano dessa camisa. Ano especial para o Atlético. Ano do Centenário do Clube.


Em 2008, os heróis da Libertadores que viria 5 anos depois estavam em lugares distintos. Victor era goleiro do Grêmio, time no qual também jogava o zagueiro Réver. Ronaldinho Gaúcho já estava sendo obscurecido no Barcelona por um tal de Lionel Messi. Jô ainda era lembrado como a "promessa do Corinthians" e estava na fria Rússia, defendendo o CSKA de Moscou. Guilherme também era uma promessa em Minas Gerais, mas estava jogando pelo lado azul da cidade. Pierre era destaque de um Palmeiras que ameaçava voltar a se destacar no cenário nacional. Em outro time verde, encontramos Josué, na Alemanha, defendendo o Wolfsburg. No Rio, Diego Tardelli ajudava o Flamengo a ganhar o Campeonato Carioca em cima do Botafogo treinado nada mais, nada menos do que por Alexi Stival, o Cuca.

 A situação no Atlético Mineiro no ano do seu Centenário também não era muito animadora. Dois anos antes, o time enfrentara o purgatório da Série B, onde sagrou-se campeão. Em 2007, mesmo tendo atropelado o rival Cruzeiro na final do Campeonato Mineiro, numa vitória de 4x0 com direito ao goleiro Fábio levando um gol virado de costas para o mesmo, e tendo feito uma campanha razoável no Brasileirão, não haviam muitas coisas animadoras para se esperar em 2008.

O ídolo Marques, já com seus 35 anos, era anunciado como reforço para a temporada, após passar um tempo no Japão. Outro reforço duvidoso era o meia sérvio Dejan Petkovic, que não exibia mais um bom futebol desde sua passagem pelo Fluminense, entre 2005 e 2006. Além disso, o Presidente do clube Ziza Valadares não agradava os torcedores.





Novidade mesmo, só o novo fornecedor esportivo. A italiana Diadora saía do time e dava lugar para a conterrânea Lotto. Além dessa camisa preta da Mantoteca, a Lotto também fez outras camisas celebrando o centenário do Galo. Como, por exemplo, um modelo excêntrico listrado em preto e dourado, lembrando muito o uniforme do Peñarol do Uruguai. Abaixo, as fotos das camisas lançadas naquele ano:









O bolso do atleticano colecionador ficou mais vazio. E a paciência também. Qualificou-se em 3o lugar no Campeonato Mineiro, atrás do Cruzeiro e do Tupi de Juiz de Fora. Mesmo assim, o time avançava na Copa do Brasil. Deixou times como o Palmas-TO e o Nacional-AM para trás. Voltando ao Campeonato Mineiro, o Atlético deixava o também alvinegro Tupi para trás, após vencer os dois jogos, 3x2 no primeiro em BH e 1x0 em Juiz de Fora.



A partir do dia 23 de Abril, as coisas começavam a complicar-se. Jogando nos Aflitos, em Recife, o Atlético perdia seu primeiro jogo na Copa do Brasil em 2008. Mesmo com o sérvio Petkovic abrindo o placar aos 3 do primeiro tempo, o Galo levaria 3 gols, a virada do time pernambucano. Danilinho, ao apagar das luzes do jogo, ainda deixou o placar mais aceitável. 3x2 e no Mineirão era só buscar a virada.

Mas o desastre maior seria no dia 27 de Abril, um domingo. 1o jogo da final do Mineirão. O sonho de ganhar do rival Cruzeiro no ano do Centenário. O Bicampeonato sobre o rival. Um sonho que começava a desabar logo aos 12 do primeiro tempo, quando o boliviano Marcelo Moreno marcava seu gol. Para piorar, o veterano zagueiro Marcos marcaria contra o patrimônio, 7 minutos depois. O atual volante do Chelsea, Ramires, ainda fecharia a conta do 1o tempo: 3x0 para a Raposa.

Vira 3, termina 6? Quase. Guilherme (o próprio, que fez um gol salvador na semifinal da Libertadores deste ano) marcou o 4o gol aos 21 minutos do 2o tempo. A vingança de 2007 já estava concretizada. Mas, 11 minutos depois, veio Wagner (atual reserva do Fluminense) e completou a soma. 5x0. No ano do Centenário. Numa final. Contra o maior rival de todos. 


A crise veio. Mesmo assim, não foi o suficiente para eliminar o Atlético da Copa do Brasil. Com um gol de Danilinho, o Galo conseguiu manter-se vivo na competição graças ao discutido critério de gol fora de casa. Mas, seria possível reverter o resultado desastroso?



A resposta veio com um time apático em campo no 2o jogo da final. Marcelo Moreno apenas confirmou a superioridade do rival e fez o único gol daquele jogo. Cruzeiro Campeão Mineiro. Vingando 2007 com juros e correção monetária (isso porque também haveria outro 5x0 em 2009).



Desastres em Centenários não são raros. O Flamengo de 1995 também perdeu título estadual para o rival, levando um gol de barriga histórico. O Botafogo de 2004, que havia acabado de voltar para a 1a divisão do Brasileiro e quase foi rebaixado novamente. Posteriormente, teríamos os exemplos do Coritiba de 2009, rebaixado no Nacional na última rodada do campeonato, de forma dramática, o Internacional do mesmo ano, que foi vice na Copa do Brasil e no Brasileirão, e o Corinthians de 2010, que fez um plano ambicioso para ganhar tudo e não ganhou nada. Com o Atlético, o caminho parecia seguir o roteiro comum dos centenários frustrados.

Ainda havia o Brasileirão e as rodadas seguintes da Copa do Brasil. Era hora de enfrentar o Botafogo, treinado pelo agora herói atleticano Cuca. Mas em 2008 Cuca era uma pedra no sapato do Galo. Em 2007, pela mesma Copa do Brasil, o Glorioso, já treinado pelo paranaense, havia eliminado o alvinegro mineiro. E, como em 2007, o 1o jogo terminou 0x0.

Enquanto o jogo de volta não chegava, o Brasileirão começava. E logo de cara, um resultado decepcionante: um empate em casa contra o time reserva do Fluminense, já que o time titular focava-se na Libertadores (aquela mesma, da LDU). E então, no meio da semana, o jogo no Engenhão. O Atlético não aguentou e levou 2 gols do Botafogo do 2o tempo. Era eliminado da Copa do Brasil mais uma vez pelo rival alvinegro do Rio.


Agora, restava esperar pelo início da Sul-Americana (onde enfrentaria o Botafogo novamente na fase nacional da competição). E, claro, prosseguir o Brasileiro. O sonho de um título para coroar o Centenário começava a esvair-se. E depois de mais 2 empates, o time ganhava seu primeiro jogo contra a Portuguesa, em Minas.


Mas era bom demais para aquele time. Na rodada seguinte, veio o atual bicampeão nacional, o São Paulo de Muricy Ramalho, um time que não era muito chegado a golear. Porém, assim como no 1o jogo da final do Mineiro, nova goleada: 5x1 para os paulistas. Na rodada seguinte, veio o rival regional Ipatinga, o típico jogo de 3 pontos, já que o time do Vale do Aço estava muito enfraquecido em relação aos anos anteriores. 4x2 para o Galo no Mineirão


Nas quatro rodadas seguintes, 3 empates e 1 derrota. O time estava cada vez mais longe de qualquer chance de título nacional, e a zona de rebaixamento já começava a ficar muito mais próxima. 2008 se desenhava para ser um ano desastroso como 2005. A derrota para o Cruzeiro que se seguiu apenas confirmava essa hipótese.

Contra o Internacional de Nilmar, o Galo nada pode fazer: mais uma derrota. Mas, contra o Coritiba, que acabava de voltar da Série B, um suspiro de alívio. 3x2 contra o time da "eterna promessa" Keirrison, que deixou a sua marca no jogo.

Eis que aparece o outro alvinegro. O Botafogo, jogando no RJ, surrou impiedosamente o time do Atlético. 4x0, com gol de pênalti saindo no 1o minuto de jogo. Cuca já havia sido demitido, mas tornou o Glorioso um verdadeiro obstáculo na vida do Galo Doido. No Mineirão, a tentativa de reabilitação vencendo o Vitória por 2x1


O Vasco da Gama, rival da próxima rodada, havia sido massacrado pelo Santos na Vila Belmiro. E também era um candidato real à vaga na Série B 2009. O jogo era em São Januário, e o Atlético podia sonhar em vencer para respirar mais. Um já desgastado Edmundo abriu o placar para o Vasco aos 13 do 1o tempo, mas Jael empatou para o Atlético 2 minutos depois. Reação? Não. Mais um vexame. Mais uma goleada. Vieram mais 5 gols, todos a favor do time cruzmaltino. Placar final: 6x1 para o Vasco. E detalhe: repararam no uniforme preto do Atlético? É o uniforme da Mantoteca.


Placares magros garantiam a vida do Atlético no Mineirão. Dessa vez, contra o Sport. 2x1. E, finalmente, a primeira vitória fora de casa. Um importante 3x2 em cima do Santos de Kleber Pereira dentro da Vila Belmiro. Tudo isso colocava o fantasma do rebaixamento longe do bairro de Lourdes novamente.


Próximo combate: o Grêmio no Mineirão. O time gaúcho era líder do campeonato e buscava um título que não vinha desde 1996. Era o último jogo do turno, e o Atlético continuava invicto contra times de fora do estado no Mineirão. Pois então, o tricolor gaúcho aplicou mais uma goleada no Galo: 4x0. À essa altura do campeonato, os torcedores atleticanos já nem queriam mais título no Centenário, queriam mesmo é parar de ver o time passar vergonha.

E por falar em vergonha, lá vinha o Botafogo de novo. Dessa vez pela Sul-Americana. Acreditar em títulos, pouquíssimos. Mas, talvez uma vingança contra as eliminações consecutivas impostas pelo time de General Severiano. Em vão, o 1o jogo foi 3x1 para o alvinegro carioca. E tudo teria que ser resolvido no Mineirão.



Início do 2o turno. Era hora de reagir contra o Fluminense, dessa vez jogando no Rio e com o time titular. O tricolor carioca ainda amargava a ressaca da final inacreditável perdida para a LDU e cumpria exatamente o que o seu técnico Renato Gaúcho dissera: estavam "brincando" no Brasileiro. Mesmo assim, o Galo não conseguiu vencer. 1x0 para o Flu, gol de Dodô.

Um empate com o Goiás em casa se seguiu. E depois, um ótimo resultado. Finalmente o Atlético goleava alguém naquele Brasileiro. E a vítima foi o seu xará do Paraná, que também vivia uma má fase. 4x0 no Atlético Paranaense.


Chegou a hora de encarar o Botafogo novamente, no jogo de volta da Sul-Americana, no Mineirão. Se era para ser eliminado, que fosse de maneira decente. Talvez aquele Atlético de 2008 não soubesse o significado da palavra "decente". Protagonizou mais um vexame em sua casa, a 4a vitória seguida do Botafogo em cima do Galo no ano. E de goleada: 5x2 para o Fogão e outra eliminação.



Depois disso, vieram dois empates pelo Brasileiro, um deles contra o São Paulo que havia goleado o time impiedosamente no 1o turno. E a péssima derrota para o Ipatinga, jogando no Ipatingão. 3x2 para o time que posteriormente cairia como lanterna daquele torneio.

Mesmo assim, o Atlético continuava a oscilar. Ainda estava correndo riscos de cair, perdia e ganhava jogos improváveis. Ganhou o jogo contra o Náutico em casa por 2x1. Empatou também em casa contra o Figueirense. E perdeu para o Palmeiras por 3x1 em São Paulo.

Talvez um dos momentos mais enigmáticos do Atlético Mineiro em 2008 foi no dia 11 de Outubro. Jogo contra o Flamengo, que estava no G4 e embalava para brigar pelo título brasileiro. Em pleno Maracanã. Nem os próprios atleticanos acreditavam que seria possível voltar de lá com um empate. Mais de 70000 espectadores, a maioria deles rubro-negros, foram assistir ao que seria um gigantesco banho de água fria da parte do Galo. 3x0 para o time mineiro. O garoto Renan Oliveira jogou de uma forma espetacular. E o placar ficou barato, pois o Galo perdeu muitos gols.


A vitória sensacional contra o rival Flamengo não ajudou contra o arquirrival Cruzeiro na rodada seguinte. Uma nova derrota. 2x0 para o time azul, que cada vez mais se aproximava de sua vaga na Libertadores. Seria um pesadelo ter que ver o rival disputando a América enquanto novamente o Galo era condenado à Série B. O empate com o Inter por 2x2 também no Mineirão também não ajudava na fuga do fantasma do rebaixamento.

Parece que o estoque de sorte daquele time acabou. Nova derrota, agora em Curitiba para o Coritiba. O próximo jogo era contra o algoz Botafogo, que poderia vencer pela 6a vez consecutiva o Galo. Mesmo que o jogo fosse no Mineirão, o alvinegro do Rio assustava. Havia goleado no 1o turno e eliminado o time de dois mata-matas, tudo no mesmo ano. Então o Galo resolveu apelar novamente para o improvável. Venceu por 2x1, não o suficiente para vingar-se de todas aquelas derrotas, mas foram 3 pontos para fugir de uma humilhante queda centenária.


E parece que a vitória sobre o algoz adiantou. Mais uma vez, o Galo vencia um rubro-negro dentro de sua própria casa. Dessa vez era o Vitória, que caiu por 1x0 dentro do Barradão. Voltando para Minas, o Vasco que havia aplicado um humilhante 6x1 aguardava para tentar reabilitar-se também no campeonato. Vingança! O Atlético quase devolve a goleada no cambaleante time da Colina, 4x1. E empurra o Vasco para os braços do rebaixamento, enquanto era impulsionado para um lugar fixo no meio da tabela.


Mas as 3 vitórias seguidas acabariam na Ilha do Retiro, quando novamente o Galo levou mais um golpe forte. 3x0 para o Sport. Já faltavam duas rodadas para o fim, e o pesadelo de um rebaixamento histórico já havia quase terminado. E mesmo empatando com o Santos e perdendo o jogo que poderia dar o título de Campeão Brasileiro ao Grêmio (o SPFC precisava perder do Goiás, mas venceu), o Galo estava livre. Aquele terrível ano do centenário estava acabado. Sem título. Mas sem mais humilhações.

Em Outubro de 2008, Ziza Valadares havia deixado a presidência e Alexandre Kalil, filho de um dirigente do Atlético que presidiu o clube durante a Era de Ouro nos anos 80 (embora esta só tenha vindo em forma de títulos estaduais consecutivos e boas campanhas no Brasileiro), assumia o cargo, que ocupa até hoje. O resto entraria para a história. O título mais importante depois do Brasileirão de 71. A Libertadores de 2013. O Kalil que entrou naquele Centenário destruído conseguiu levar o Atlético aonde ele nunca esteve. Mesmo depois de 2009, onde o time perdeu a vaga na Libertadores no fim do campeonato. Mesmo depois de 2010 e 2011, anos onde o time quase caiu novamente. Mesmo depois de um vice-campeonato nacional em 2012 que fez todo torcedor atleticano imaginar que o sofrimento dura para sempre. Mas, já dizia Renato Russo, reforçado posteriormente por Cássia Eller, "o pra sempre, sempre acaba".

E é com essa música que deixo vocês hoje, refletindo sobre o belo título do Atlético, sofrido e merecido. E lembrando de tudo que esse time passou até chegar neste momento de glória.

Parabéns Galo, Campeão da Libertadores da América.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Seleção Brasileira - 1991/93 - O gigante do futebol acordava!

30 de Outubro de 1991. Naquele mês, o Papa João Paulo II havia vindo ao Brasil pela 2a vez na história, depois de 11 anos. A Croácia havia declarado sua independência da Iugoslávia, algo que a vizinha Eslovênia já havia feito em Junho do mesmo ano, e que ocasionaria o início de um conflito sangrento nos Bálcãs que duraria mais 4 anos. A União Soviética se desfazia lentamente. E um mês antes, um certo disco com um bebê nu nadando atrás de uma nota de dólar era lançado. "Nevermind", do Nirvana, estreava com músicas que eternizariam o rock e o movimento grunge.


O futebol brasileiro via nascer um supertime: o São Paulo de Telê Santana. Após 2 vices consecutivos, o Tricolor Paulista conquistava o Brasileirão (que na época era disputado no 1o Semestre) em cima do surpreendente Bragantino. O time ainda consagraria-se Campeão Paulista no fim do ano. A Copa do Brasil foi vencida pelo histórico Criciúma de Jairo Lenzi e do atual técnico da Seleção, Luiz Felipe Scolari. O time comandado pelo Felipão venceu o copeiro Grêmio e conseguiu o direito de disputar a Libertadores em 1992.

Mas no âmbito internacional, as coisas não andavam bem. Corinthians e Flamengo foram eliminados da Taça Libertadores consecutivamente pelo Boca Juniors do goleiro Navarro Montoya e de um jovem chamado Gabriel Omar Batistuta. O Colo Colo acabaria dando ao Chile seu primeiro (e até hoje, o único) título de Libertadores. O Cruzeiro foi o alento brasileiro, ao ser campeão da Supercopa da Libertadores, torneio disputado apenas pelos campeões da América do Sul. Derrotou o River Plate, após sair perdendo por 2x0 em Buenos Aires, e revertendo com 3x0 no Mineirão.

21 anos se passaram desde que o Brasil havia ganho sua última Copa do Mundo. Ainda era vívida a lembrança do gol argentino de Caniggia que havia eliminado a Seleção de Lazaroni na Itália em 90. E as coisas ficaram piores quando o ex-jogador Falcão assumiu o cargo. Defendendo o título de 1989, quando o torneio foi disputado no Brasil, a Copa América no Chile era uma chance de tirar a Seleção da crise. Na 1a fase, o Brasil venceu 2 de seus 5 jogos, empatou 1 e perdeu apenas para a Colômbia de Higuita, Escobar, Rincón e Valderrama. Passou em 2o lugar, atrás da própria Seleção Colombiana.

Porém, na segunda fase, disputada entre os 4 melhores times da competição, uma derrota para a carrasca Argentina por 3x2 no 1o jogo complicava a vida da Seleção. Mesmo assim, conseguiram vencer a Colômbia e chegou na última rodada necessitando vencer o Chile e torcer por uma vitória colombiana sobre os portenhos. O Brasil venceu por 2x0 os donos da casa, mas a Argentina superou a Colômbia e foi campeã da América do Sul. Mesmo sem o astro Maradona, que já começava a protagonizar a polêmica com as drogas.


A derrota custou o cargo de Falcão na Seleção, e no jogo seguinte, um amistoso contra o País de Gales, o técnico foi Ernesto Paulo. Mesmo jogando na casa do rival, a derrota de 1x0 foi um sinal vermelho. A crise estava reinando na Seleção Brasileira e quase ninguém acreditava que aquele time ganharia alguma coisa importante em 1994, ano da próxima Copa.

Foi então chegada a época de uma renovação. O técnico Carlos Alberto Parreira foi chamado para assumir o Brasil. E no jogo em que estrearia, contra a Iugoslávia, o Brasil também renovava o visual de seu uniforme. O velho uniforme de pano da Topper utilizado desde 1990 seria substituído. E o escudo da CBF voltaria a ser igual a como era antes de 1981, aposentando o outro distintivo que levava o desenho da Taça Jules Rimet em seu interior.

E então, a camisa do Brasil sofria uma das maiores mudanças de sua história. Entra em cena um dos uniformes mais diferentes da história da Seleção Brasileira, feito pela mesma Umbro que forneceu as camisas daquele ano vitorioso de 1970. Porém, ao invés de tradicionalismo, viu-se a ousadia do design que era muito comum no início dos anos 90. Esse é o uniforme escolhido da Mantoteca para hoje:


Este uniforme era de um grande amigo meu, então subornei-o com uma camisa do Flamengo de 2011 com o nome do Ronaldinho nas costas (em 2011 mesmo - quando a torcida do Fla ainda acreditava que o Dentuço seria o salvador da pátria). Ele trocou a camisa nova do Flamengo por essa do Brasil, além de uma camisa do Flamengo de 1995, uma do Milan de 1995 e outra da Alemanha da Copa de 1994. Uma troca 1 por 4 que foi boa para as duas partes.

Voltando a falar sobre o uniforme lançado em Outubro de 1991 pela Umbro. O uniforme, além de resgatar o logotipo clássico da CBF, tinha uma gola pólo um pouco extravagante, com todas as 4 cores da bandeira nacional. Além de várias marcas d'água em forma de bandeiras tremulantes com a palavra "BRASIL" dentro. Também pode somar-se o logo na manga direita, uma mistura do diamante da Umbro com as palavras "CBF". Além do amarelo, mais claro do que o usual. Muitos odiaram, outros gostaram.


Abaixo, uma matéria do Esporte Espetacular (que não tinha aquelas palhaçadinhas de João Sorrisão na época, era um programa mais sério) que fala sobre o novo uniforme. A partir dos 54 segundos:

Esporte Espetacular falando sobre o uniforme do Brasil em 1991

A estreia do uniforme foi contra a Iugoslávia, que possuía em sua base o time do Estrela Vermelha de Belgrado, que protagonizara uma zebra histórica naquele ano de 91, ao vencer a Liga dos Campeões da Europa sobre o Olympique de Marselha, que tinha deixado o poderoso Milan de Van Basten para trás. E foi na data que inicia esta postagem da Mantoteca que a partida ocorreu: 30 de Outubro.

O Brasil, com jogadores como Raí, Bebeto, Cafu, Müller e Renato Gaúcho, venceu a partida por 3x1, disputada em Varginha, cidade próxima ao local de nascimento de Pelé, Três Corações, em Minas Gerais. Sim, a mesma cidade de Varginha que seria conhecida pela suposta aparição de um extraterrestre 5 anos depois. O ano de 91 ainda teria mais um amistoso em Dezembro contra a já fadada à extinção Checoslováquia (no início de 1992, República Checa e Eslováquia se separariam). Vitória brasileira por 2x1 jogando em Goiânia.

1992 começou prometendo ser um ano de novidades. A União Soviética acabou, a guerra estourava nos Bálcãs (o que tirou a vaga da Iugoslávia na Eurocopa daquele ano, sendo substituída pela Dinamarca, que ganharia o torneio), e o governo de Fernando Collor tentava em vão controlar a hiperinflação que galopava com ferocidade, desvalorizando cada vez mais o ressuscitado Cruzeiro em pouco menos de 2 anos.

Na Seleção, más notícias. O Brasil não se classificou para as Olimpíadas de Barcelona. Mas a Seleção Principal continuava sua série de vitórias iniciada depois da estreia do novo uniforme (e da chegada de Parreira). Vitórias de 3x0 contra os EUA de Meola, Balboa e Tab Ramos (nomes que se tornariam mundialmente conhecidos em 1994) e 3x1 contra a Finlândia de Jari Litmanen elevavam um pouco o otimismo. Mas quando enfrentou a primeira seleção qualificada, e jogando fora do país, perdeu: vitória do Uruguai comandado por Luis Cubilla por 1x0 em Montevidéu.

Abaixo, o vídeo com a vitória sobre a Finlândia:


O Brasil voltaria a enfrentar outros adversários qualificados: empatou com a Inglaterra em Wembley por 1x1, o Milan (é um clube, mas na época fazia frente a muita seleção!) por 1x0 no San Siro. Depois disso, disputaria um torneio amistoso nos EUA, goleando por 5x0 o México de Jorge Campos, e sairiam campeões vencendo novamente os norte-americanos naquele ano, por 1x0.

Brasil 1x1 Inglaterra:


A Seleção, já na metade de 1992, começava a engrenar novamente, pelo menos nos amistosos. Naquela altura do campeonato, o escândalo que levaria Collor ao impeachment no final do ano já estava sendo amplamente divulgado pela imprensa. Ayrton Senna tentava brigar pelo Tetra Mundial na F1 pela McLaren, mas a Williams com sua supermáquina dirigida por Nigel Mansell abria vantagem. O vôlei de ouro do Brasil encantava nos Jogos Olímpicos. E no âmbito dos clubes, uma felicidade internacional importante depois de muito tempo: o São Paulo sagrava-se campeão da Taça Libertadores pela primeira vez. Desde o Grêmio em 1983 que nenhum brasileiro levava a competição mais importante do continente.

O Brasil ainda aprontaria naquele ano: venceria a França por 2x0 em pleno Parque dos Príncipes, em Paris (depois disso, a França se tornaria uma grande pedra no sapato do Brasil - já descontando a eliminação de 86 - vieram derrotas brasileiras como a da final de 98 e a das quartas de 2006, além de uma invencibilidade francesa que durou até 2013). Enfrentou a Costa Rica e venceu por 4x2. Mas esbarrou no Uruguai, de novo, perdendo em território nacional, na cidade de Campina Grande, na Paraíba. 2x1 para o escrete "charrua", embora a Seleção Brasileira estivesse desfalcada dos jogadores que jogam fora do país. O curioso é que no mesmo dia o Cruzeiro foi bicampeão da Supercopa da Libertadores, em cima do Racing da Argentina. É importante ressaltar isso para mostrar que não é de hoje que a desorganizada Conmebol não pensa na hora de marcar partidas importantes (vide as finais da Libertadores e da Recopa neste ano de 2013), os dois jogos foram quase no mesmo horário!

Brasil x Uruguai:


No fim do ano, ainda haveria uma boa vitória para comemorar. Um 3x1 sobre a detentora do título de Campeão Mundial, vitória brasileira sobre a Alemanha de Illgner, Matthäus, Sammer e Klinsmann, jogando em Porto Alegre e já contando com os jogadores que atuavam na Europa, como Jorginho, Bebeto, Careca e Romário.


1993 começou de forma trágica. Na véspera do fim de ano, a atriz Daniella Perez, filha da escritora Glória Perez, era assassinada pelo ator Guilherme de Pádua na Barra da Tijuca. Os dois formavam um par romântico na novela das 8 da Rede Globo: "De Corpo e Alma". Até hoje, este crime ainda é enigmático. Aquele começo de ano também foi marcado por outro fato: Itamar Franco e seu topete assumiam a presidência da República no lugar do renunciado Collor. A inflação continuava atacando ferozmente os bolsos brasileiros. E 1994 se aproximava, ano de novas eleições, ano de Copa, ano de mudanças?

E a Seleção de Parreira, já caracterizada pelo seu estilo "europeu", mais retrancado, continuava no labor. Em fevereiro, amistoso contra a Argentina, em Buenos Aires. Um empate em 1x1. Em Março, amistoso contra a Polônia em Ribeirão Preto: outro empate, 2x2. O Brasil pode ter melhorado, mas ainda era visto com muita desconfiança pela torcida. 1993 era ano de Copa América e, mais do que isso, das Eliminatórias para a Copa de 1994.

Brasil x Argentina:



Junho de 1993. O Brasil foi convidado para a US Cup, torneio amistoso disputado na sede da Copa do Mundo que viria: os Estados Unidos. Já era o 3º jogo contra os norte-americanos em menos de dois anos. E foi a 3a vitória: 2x0. Também no mesmo torneio, o Brasil enfrentou a Alemanha novamente, protagonizando um empate digno de dois gigantes do futebol mundial: 3x3. O torneio era disputado por pontos corridos, e o Brasil precisava vencer a Inglaterra e torcer por uma derrota alemã perante os EUA. O Brasil não fez sua parte: empatou com os ingleses em 1x1. Já os alemães venciam os EUA e ganhavam o troféu amistoso, já que também ganhariam da Inglaterra. Naquela época, estava claro que a Alemanha entraria em 1994 como favorita. Já o Brasil...

Vídeo do confronto entre Brasil X Alemanha:

Se o Brasil não dava pinta que chegaria longe em 1994, os clubes brasileiros encantavam. O São Paulo, que havia vencido o "Dream Team" do Barcelona na final do Mundial de Clubes de 1992, vencia consecutivamente sua segunda Libertadores (algo que não ocorre desde então). O Palmeiras montava um esquadrão com o dinheiro da Parmalat e também prometia alegrias aos seus torcedores.

Então a Copa América do Equador começou. O fato de só jogadores atuantes no Brasil terem sido convocados, já que os que jogam na Europa foram poupados, não era desculpa. Os times brasileiros estavam se fortalecendo naquela época. O 1º jogo foi contra o Peru, e logo uma decepção: empate por 0x0. Logo depois, outro golpe: derrota por 3x2 para o Chile, que tinha o Sierra em seu plantel (ídolo e atual técnico da Unión Española de Santiago, teria uma passagem fracassada pelo SPFC em 1995). Para passar de fase, era necessário vencer ou vencer o Paraguai de Chilavert. O Brasil ganhou de 3x0, gols de Palhinha (SPFC) e do "animal" Edmundo (Palmeiras). O Brasil classificava-se em 2o lugar no seu grupo, atrás apenas dos peruanos.

Vídeo da derrota para o Chile:


Nas quartas-de-final, era chegada a hora de vingar-se da Argentina, que cada vez mais tornava o seu vizinho de cima um freguês mais fiel. O são-paulino Müller abriu o placar, mas Leo Rodríguez empataria o jogo e levaria as definições para os pênaltis. Todos os dois times acertaram as suas cobranças na 1a parte, levando a disputa para as cobranças alternadas, onde um pênalti perdido contra outro marcado significa a eliminação imediata. Luisinho (Vasco da Gama) acertou, e Medina Bello (River Plate) também. Mais uma cobrança. Marco Antônio Boiadeiro, do Cruzeiro bicampeão da Supercopa, tinha a chance de fazer a Seleção brilhar internacionalmente. Porém, bateu muito mal, no meio do gol, e Goycoechea apenas fez o básico: defendeu. Por ironia do destino, Borelli, do Racing que havia perdido a Supercopa para o Cruzeiro de Boiadeiro no ano anterior, foi para a cobrança derradeira. Zetti não teve chance e o Brasil caiu pela 3a vez seguida para a Argentina num torneio internacional oficial.

Jogo completo:


O Brasil amargava seu primeiro grande fracasso com Parreira, depois de sua volta em 91. E a Argentina, que nada tinha a ver com isso, passou pela Colômbia (também nos pênaltis) e venceu o México por 2x1 na final, sendo mais uma vez campeã da Copa América. Por sinal, o último título da seleção principal dos "hermanos" até hoje.

No mês de Julho, começava as Eliminatórias para a Copa. O grupo em que o Brasil se encontrava apenas aparentava ter o Uruguai como ameaça. Equador, Bolívia e Venezuela não eram o suficiente para amedrontar aquela seleção que nunca havia perdido um jogo sequer de Eliminatórias na história.

Antes disso, o Brasil ainda teve tempo de fazer um amistoso contra o Paraguai, jogando em São Januário, no Rio de Janeiro. Com gols de Branco e Bebeto, veio a vitória por 2x0. Aquela seleção que não encantava também não dava sinais de que perderia uma vaga para a Copa.

O primeiro jogo seria contra a seleção equatoriana, em Guayaquil, facilitando o trabalho do time, já que a cidade fica ao nível do mar, ao contrário da capital, Quito, onde a altitude poderia atrapalhar. Mesmo assim, o Brasil não passou de um decepcionante 0x0.

O próximo jogo seria mais complicado. A Bolívia sempre foi uma seleção fraca, mas a altitude de La Paz era um obstáculo gigantesco para qualquer time. O Brasil tinha a invencibilidade nas Eliminatórias ao seu favor. E o jogo começou. O Brasil sentiu os efeitos da altitude e jogou mal, mesmo com jogadores já experientes como Jorginho, Branco, Dunga, Zinho, Bebeto, Careca e Evair. O primeiro sinal veio no pênalti cobrado por Marco Etcheverry (também conhecido como "El Diablo"). Mas Taffarel, que fazia uma excelente partida, defendeu a cobrança.

Porém, o herói Taffarel viraria um vilão cinematográfico aos 43 do segundo tempo. Com a perna esquerda, o goleiro mandou para dentro do gol um chute cruzado totalmente defensável de "El Diablo". Bolívia 1x0. E contrariando Tiririca, as coisas ficaram pior do que estavam. Um minuto depois, Peña, cara a cara com Taffarel, marcou o segundo tento. Fim de festa: 2x0. A Bolívia não era mais aquele time fraco, e soube se aproveitar do fator altitude como nunca. E o Brasil parecia já anunciar o desastre que não era mais improvável. Seria 1994 a primeira Copa sem a "Seleção Canarinho"?


A crise na Seleção Brasileira chegou. Assim como a crise que assolava o país naquele inicio de anos 90. Numa época em que até o Fusca foi ressuscitado pelo Itamar como opção de carro barato. Numa época em que bom mesmo era ver Antônio Fagundes interpretando o Coronel José Inocêncio na novela das 8 "Renascer". Numa época em que o pagode romântico de grupos como o "Raça Negra" e o "Só Pra Contrariar" estouravam nas paradas e eram obrigatórios em todos os churrascos de domingo.


As eliminatórias continuavam. E o Brasil se via obrigado a vencer a fraca Venezuela na casa deles. Um passeio brasileiro: 5x1. Ainda houve tempo de fazer um amistoso em Maceió: 1x1 com o México. O próximo jogo prometia ser extremamente complicado. Enfrentar o Uruguai no Estádio Centenário era algo muito difícil. E a Seleção não andava bem das pernas. A não convocação de Romário, alegada pela Comissão Técnica do Brasil por causa da indisciplina do jogador, causava comoção nacional. O Baixinho estava indo muito bem na Europa, acabara de deixar o PSV da Holanda para se juntar ao Dream Team do Barcelona comandado por Cruyff e formar um ataque letal ao lado do búlgaro Hristo Stoitchkov.


Para os pessimistas, o resultado em Montevidéu foi lucro: empate em 1x1 para um time que vinha de derrotas consecutivas para a Seleção Celeste. Mas era bom que as vitórias voltassem logo. E voltaram, quando o Brasil venceu o Equador no Morumbi, em São Paulo, pelo placar de 2x0. Não era o bastante ainda, mais vitórias teriam que vir. A Bolívia fazia sua parte na altitude e o Uruguai vencia de forma mais convincente seus jogos. O Brasil ainda corria sérios riscos de ser eliminado.


Em Recife, era hora de pegar a Bolívia novamente. O time boliviano dessa vez não tinha a altitude para ajudar. E, ao nível do mar, os andinos foram massacrados: 6x0 para o Brasil. Ainda não era motivo de alívio, o Uruguai fazia a sua parte e despontava como a maior ameaça à classificação brasileira para 1994.


Mesmo voltando a vencer, a torcida brasileira não estava nem um pouco agradada pelo modo de jogar da Seleção. O estilo imposto por Parreira, um futebol mais pegado, adverso ao futebol-arte que tanto caracterizou a história da Seleção Brasileira, irritava os torcedores. Além do veto à Romário, que já ganhava campanha nacional para ser convocado.

Ainda assim, o Brasil continua seguindo seu caminho de vitórias. O penúltimo jogo das eliminatórias, contra a Venezuela, em Belo Horizonte, seria fundamental. Vitória incontestável por 4x0, gols de Ricardo Gomes (2), Palhinha e Evair. O Brasil chegava ao derradeiro jogo contra o Uruguai OBRIGADO a vencer, já que a Celeste Olímpica também havia vencido o seu compromisso contra o Equador. Caso o Brasil perdesse, teria que torcer por uma derrota da Bolívia no Equador, pois apenas o empate neste jogo já seria suficiente para colocar o time boliviano e o Uruguai na Copa.

O Uruguai possuía um bom time, com nomes como Kanapkis, Ruben Sosa e Enzo Francescoli, simplesmente o jogador que inspirou Zinedine Zidane, segundo o próprio. E o fato de o jogo ser no Maracanã já causava calafrios. Um novo "Maracanazo" seria um desastre, talvez até sepultasse a reputação conquistada pela Seleção entre os anos 50 e 70. Já eram 23 anos sem título de Copa do Mundo, e nesse intervalo de tempo tivemos a rival Argentina ganhando duas vezes, e Itália e Alemanha igualando o feito brasileiro de 1970: ambos os europeus atingiram o Tri Mundial.

19 de Setembro de 1993. O Maracanã estava lotado. Não como em 1950, quando mais de 200 mil cabeças viram o maior desastre da História do Futebol Brasileiro. Talvez como em 1989, quando Romário garantiu o último título importante daquela Seleção, na vitória por 1x0 na Copa América. Mas de uma coisa é certa: aquele jogo, não importasse o resultado, também entraria para a História.

Finalmente Romário voltava à Seleção. Mas o temor de um desastre como 1950 deixava aquele jogo tenso. Os supersticiosos se agarravam no fato de o Brasil ter perdido um jogo de eliminatórias pela primeira vez naquele ano, o que de certa forma assustava. Mas futebol se decide em campo. E então, num Maraca abarrotado de gente vestida de amarelo, o juiz peruano Alberto Tejada apitava o início do jogo.

O Brasil atacou muito. Romário estava sendo o destaque do jogo. Mas a bola não entrava. Em alguns poucos contra-ataques o Uruguai chegava com perigo. O Uruguai fazia seu jogo violento para impedir os ataques brasileiros e segurar o jogo. E conseguiu, pelo menos no 1o tempo.

No 2o tempo, o panorama do jogo não mudou. Muitos gols perdidos, a maioria pelo Brasil. Enquanto isso, a Bolívia conseguia sair na frente no jogo contra o Equador. A notícia chegava ao Maracanã através dos radinhos de pilha. Se o Uruguai conseguisse fazer um improvável gol, o sonho da Copa de 1994 seria soterrado. Já haviam se passado mais de 25 minutos do 2o tempo, quando Bebeto, avançando pela ponta-direita, cruzou para o centro da área. Um gigante chamado Romário subiu mais que o marcador e cabeceou para baixo, sem chances para o goleiro Siboldi. O Brasil abria 1x0. Gol do ídolo Romário, que a torcida tanto pediu. A dupla Romário e Bebeto já havia se mostrado eficiente em 1989, e novamente os dois mostravam o seu valor na Seleção.

A partir daquele 27º minuto do 2o tempo, quando saiu o 1º gol do Brasil, todo o temor de um desastre começou a ficar para trás. O Equador também empatava com a Bolívia, o que dava a liderança de seu grupo das Eliminatórias para o Brasil. E, por consequência, eliminava o Uruguai da Copa. Era questão de tempo até sair o 2o gol. E saiu, depois que Romário deu um drible no goleiro Siboldi e só fez o básico: empurrar para o fundo das redes.

O Maracanã entrou em frenesi. O Brasil estava classificado para a Copa do Mundo de 1994. A escrita de participar em todos os Mundiais (mantida até hoje) continuava intacta. Mesmo a derrota para a Alemanha por 2x1 num jogo na cidade alemã de Colônia num amistoso não abalaria aquele momento. E ainda houve um último jogo em 1993, uma vitória simples contra o México, jogando em Guadalajara. Foi o último jogo que o Brasil trajou a camisa mostrada aqui na nossa Mantoteca. Em 94, um modelo semelhante da Umbro, com marcas d'água do escudo da CBF na parte frontal, seria a camisa utilizada na Copa. E aquela camisa, como todos sabem, também seria histórica. Tão histórica quanto as de 58, 62, 70 e, posteriormente, 2002. Seria a camisa do Tetracampeonato Mundial, dando fim a 24 anos de jejum e marcando a volta do Brasil ao topo. Mas aí já é outra história

Obrigado por lerem mais esse artigo! Continuem acompanhando as histórias da Mantoteca, cada camisa, um novo conto!





Vídeo da "decisão" contra o Uruguai:
Alemanha 2x1 Brasil:



domingo, 21 de julho de 2013

Vasco - 1995/96 - Kappa

Olá pessoal!
O primeiro post foi sobre a camisa do Flamengo. Agora, nada mais justo do que pegar a camisa de um de seus rivais, uma camisa que passou um tempo aqui na minha Mantoteca, e foi trocada por uma camisa do Bayern de Munique lá no Encontro de Colecionadores de São Paulo. Sim, hoje é dia de falar do Vasco, ainda mais depois da vitória sobre o Fluminense hoje que aliviou a situação do time no Campeonato Brasileiro até o momento! Aliás, tricolores e botafoguenses, ainda contaremos histórias com suas camisas!

Embora tenha terminado 1994 satisfazendo os torcedores do Caldeirão de São Januário, com o Tricampeonato Carioca e uma campanha razoável no Brasileiro, o Vasco começou 1995 já vendo o antigo ídolo Romário indo para o arquirrival Flamengo. Junto à ele, outro ex-jogador criado no time: Edmundo. Fez uma campanha pífia no Carioca, vencido pelo Fluminense de Renato Gaúcho, e foi eliminado de forma vexatória na Copa do Brasil, levando 5x0 do Corinthians de Marcelinho Carioca nas semifinais. O time mais popular de São Paulo seria o campeão do torneio.
Na ocasião, o Vasco, desde o Brasileirão de 1994, era fornecido pela Penalty, que atualmente também fornece o time (mas, convenhamos, não tem acertado tanto a mão). Além de ser patrocinado pela Lousano, fabricante de condutores elétricos que também estampou o uniforme de outros times, como o Santos. Esse uniforme da Penalty foi até relançado em 2011, como visto abaixo.

Porém, a Penalty acabou não durando até o final daquele ano de 95. E aí entra a camisa que vamos falar hoje na Mantoteca: o primeiro modelo da marca italiana Kappa feita para o time que tem o nome do heróico português.

Como o contrato com a Penalty terminou de forma abrupta, pois a diretoria vascaína alegou que os uniformes não tinham uma qualidade muito boa (fonte: http://acamisavascaina.blogspot.com.br/2010/06/1994-95-penalty-lousano.html), a Kappa estreou no Vasco no dia 10 de Setembro de 1995, quando o time venceu o São Paulo, no fim da Era Telê, em jogo válido pelo Brasileiro, em São Januário, pelo placar de 1x0. Gol do célebre atacante Valdir Bigode, ícone daquele Vasco da 1a metade dos anos 90.

Abaixo, o vídeo do jogo, válido pela 5a rodada da 1a fase do Brasileirão.



O Vasco já tinha em sua equipe, além de Valdir, outros nomes memoráveis. O goleiro Carlos Germano, o folclórico zagueiro Ricardo Rocha, o lateral-direito Pimentel, o atacante Leonardo (ídolo no Sport do Recife) e outro nome vindo de Pernambuco: o jovem Antônio Augusto Reis Junior. Mais conhecido como Juninho Pernambucano, o Reizinho da Colina.

Mas depois de estrear o uniforme Kappa e vencer, o time do Vasco amargou 7 derrotas seguidas no Campeonato. Seria o uniforme zicado? De qualquer forma, o time da Colina voltaria a vencer num jogo fora de casa, a vítima seria o Cruzeiro, em pleno Mineirão. Vitória vascaína por 3x2


Abaixo, uma foto da camisa mostrando o escudo completo do Vasco na manga esquerda. Essa camisa da Kappa e a anterior da Penalty tinham esse detalhe em comum

Mesmo assim, o Vasco não engrenou no Brasileiro. Sete vitórias, treze derrotas e três empates. Terminou o campeonato em 20º lugar geral, longe de se classificar para a fase final daquele ano (com 4 semifinalistas - Botafogo terminou campeão), e passou perto de ser rebaixado.

Em 1996, o contrato de patrocínio com a Lousano chegava ao fim. No início do Campeonato Carioca, o Vasco ainda apresentava o patrocínio. E também jogou a Copa do Brasil com o logo da empresa, quando protagonizou um dos maiores vexames de sua história: a goleada de 6x2 sofrida contra o Cruzeiro (que ganharia o torneio) em plena Colina, nas oitavas de final.


Definitivamente esta camisa que já esteve na Mantoteca, a primeira camisa da Kappa no Vasco, não traz boas lembranças. A derrota de 2x0 para o Flamengo na Taça Guanabara e o empate de 0x0 contra o mesmo rival na Taça Rio deram o título estadual para os rubro-negros de forma invicta. Neste último jogo, o Vasco já jogava com outra versão da camisa, com a campanha social "SOS Criança" estampada, depois do fim de contrato com a Lousano.
 A camisa seria mudada para um modelo novo (e mais diferente) no início do Brasileirão 96. E, coincidentemente, uma nova era começava na região de São Cristóvão. Edmundo, que havia defendido o Flamengo em 95 e o Corinthians em 96, voltava desacreditado para a sua casa. Os vascaínos mal imaginavam que a era mais vitoriosa do clube estava começando. Goleadas sobre o rival Flamengo, títulos nacionais, títulos internacionais, ufa! Dá saudade para todo vascaíno aquele final dos anos 90. E tudo isso vestindo Kappa, que ficou até 2001, quando, por ironia do destino, o cruzmaltino ficou 10 anos sem conquistar um título nacional relevante.

Abaixo, uma foto do Vasco trajando o uniforme de 1996, que seria eternamente lembrado por ter sido usado no ano seguinte, na campanha vitoriosa do Brasileirão de 1997


Cada uniforme, uma história a ser contada. E hoje fechamos a Mantoteca com esse uniforme do Vascão, o primogênito da Kappa, fornecedora presente em conquistas como o Carioca, Torneio RJ-SP, 2 Brasileiros, Copa Mercosul e a Libertadores. 

Abraços e até a próxima!

sábado, 20 de julho de 2013

Inaugurando o blog - Flamengo 2000/01

Cada camisa de futebol conta uma história.

Impossível ver uma camisa amarela com gola careca verde e punhos da mesma cor e não vir à mente a letra de "Pra Frente Brasil" na mente, junto com todas as outras recordações da Seleção Brasileira de 1970, de Carlos Alberto Torres erguendo a Jules Rimet no Estádio Asteca abarrotado de gente, do Rei do Futebol, Pelé, quando falava com suas jogadas espetaculares (pq ele falando com a boca é um poeta, como diz Romário), de Jairzinho, Gérson... Salve aquela Seleção!

E aquela camisa de tecido sintético de 1994, com marcas d'água do escudo da CBF de gosto duvidoso? Para muitos, tal pedaço de pano sempre trará a lembrança vívida dos gritos de "É TETRA" do Galvão Bueno, depois que Roberto Baggio cobrou o pênalti mais lembrado de todos os tempos. Também evoca Romário e Bebeto aterrorizando as zagas adversárias e um tempo em que o futebol brasileiro, condenado ao ostracismo, deu a volta por cima e mostrou quem manda no planeta bola.

Pois é esse o principal objetivo deste blog. Como uma biblioteca e seus livros, aqui nesta verdadeira "Mantoteca", você poderá ver as melhores histórias sobre futebol, contada pelos uniformes que marcaram época. Dá para contar a história de um jogo épico, de um campeonato inesquecível, dá até para contar a história de um PAÍS falando de uma camisa de futebol!

E hoje, vou começar pelo meu time do coração e o principal motivo de ter uma coleção de camisas: o Clube de Regatas do Flamengo.

Talvez a camisa do clube fundado em 1895 fundado por 6 jovens remadores, e que chegou ao futebol no ano de 1912, seja a camisa reserva branca de 1981. Foi com ela que o time mais forte do clube rubro-negro conquistou seu título mais importante: o Mundial de Clubes após aplicar um acachapante 3x0 no Liverpool de Bob Paisley (também era o time mais forte da história dos Reds, mas aí é outra história), com o time comandado por Zico. Tal camisa fez tanto sucesso que foi reeditada várias vezes na história do Flamengo, sendo a última no ano de 2011, quando o título completou 30 anos.



Porém, não será dessa camisa que falaremos hoje. Vou falar de uma camisa muito especial do Flamengo, que todos os torcedores rubro-negros lembram-se com carinho: a camisa rubro-negra de 2000/2001.


Comprei esta camisa numa feira de antiguidades que tem todo sábado na Praça XV, por míseros 20 reais. A mulher que me vendeu com certeza não tem noção do valor real dessa camisa. Se hoje os rubro-negros vivem a euforia da volta da Adidas ao clube, lá no meio do ano 2000 os flamenguistas se orgulhavam de ser o primeiro clube brasileiro a vestir Nike, que aqui no Brasil só fornecia uniformes para a Seleção Brasileira. A americana Nike estava substituindo a Umbro, tradicional marca inglesa que fez os uniformes do Fla de 1992 até então, e ficaria na Gávea até o meio de 2009.

O Flamengo estreou a indumentária nova na Copa João Havelange, o confuso Campeonato Brasileiro de 2000, em que o arquirrival Vasco da Gama sagrou-se campeão. O primeiro jogo do Fla com este uniforme foi no Maracanã contra o Grêmio, que na época tinha um jovem chamado Ronaldo de Assis Moreira em seu elenco, também conhecido com Ronaldinho Gaúcho. Vitória de 3x0 do time rubro-negro, que em 2000 investiu pesado e contratou nomes como Petkovic, Gamarra, Alex, Denílson, Edílson Capetinha... além de pratas-da-casa como Adriano Imperador, Juan (o zagueiro, hoje no Inter) e o goleirão Júlio Cesar, que ganhavam lugar naquela equipe. Era a época do presidente Edmundo Santos Silva, da parceria com a suíça ISL, que faliria no ano seguinte e levaria o time do Flamengo a uma de suas várias crises.


Mas, mesmo com um esquadrão no papel, o Flamengo fracassou feio na João Havelange. Não conseguiu classificar-se para a fase de mata-mata, numa época em que 12 times passavam para a fase posterior, muito pouco para a equipe que foi montada. Mesmo assim, houveram jogos inesquecíveis naquele campeonato, como a "carimbada de faixa" no Vasco, uma goleada de 4x0 com 2 gols de Edílson, um de Petkovic de falta (familiar, não?) e outro do jovem Adriano de 18 anos. E contra um Corinthians que teve nove derrotas seguidas no campeonato, após começar o ano ganhando um Mundial de Clubes, o primeiro organizado pela FIFA, o Flamengo passeou em pleno Pacaembu, goleando o Timão por 4x1, 3 gols do Alex. Os vídeos dos dois jogos estão abaixo:


Mas o Flamengo não disputou só o Brasileirão no fim de 2000. Estava defendendo o título de Campeão da Copa Mercosul, título que havia conquistado no ano anterior. Passou em 2o lugar num grupo com o River Plate de Saviola e Aimar, o Vélez Sarsfield e um carrasco dos anos recentes, a Universidad de Chile. Destaca-se a goleada de 4x0 que o Flamengo aplicou na "La U" em pleno Estádio Nacional de Santiago, uma partidaça do goleiro Julio Cesar, que ajudou a manter o placar favorável apenas ao Mengo. Outros tempos.


Classificado para as quartas de final, o Flamengo enfrentou o River Plate novamente. Perdeu no Maracanã por 2x1 e quase reverteu o placar em Buenos Aires, num jogo repleto de viradas. Estava ganhando de 3x2 até os minutos finais, quando "Los Millonários" acharam 2 gols e evitaram a disputa de pênaltis. Terminou 4x3 e o Flamengo se despediu daquela Copa Mercosul, que seria ganha pelo Vasco, numa partida memorável para todos os amantes de futebol, a famosa virada de 3x0 para 4x3 sobre o forte Palmeiras no Palestra Itália (Allianz Parque é o cacete).


Chegou 2001, Alex e Denílson se despediram do Flamengo, salários começavam a atrasar, e o Cariocão começou. Junto com ele, a Copa do Brasil, já que o Fla não tinha conseguido vaga para a Libertadores. Era chegada a hora de disputar o quarto Tricampeonato Estadual, após vencer em 1999 e 2000 duas finais sobre o Vasco. Mas antes disso houve o Torneio Rio-São Paulo, e o Flamengo, usando um uniforme III vermelho, fracassou lamentavelmente, com 4 derrotas em 4 jogos.





Na Taça Guanabara, 1o turno do Carioca, o Flamengo venceu 5 jogos e perdeu apenas 1, classificando-se para a semifinal contra o Vasco, que vinha de vários títulos importantes do ano anterior. Vitória rubro-negra por 2x1 e então final contra o rival Fluminense, que se recuperava do trauma do tri-rebaixamento do final dos anos 90, tendo feito uma ótima campanha na Copa João Havelange. O jogo terminou 1x1 e foi para os pênaltis, onde ocorreu uma das coisas que só existem no futebol: na hora da cobrança do jogador Cássio do Flamengo, o goleiro tricolor Murilo conseguiu espalmar a bola para a frente, porém, a bola foi levemente indo para trás até entrar de mansinho no gol, que foi validado. Final: 5x3 nas penalidades pro Flamengo, título da Taça Guanabara e classificação para a final


Na Taça Rio, disputada nos pontos corridos, o Flamengo, já classificado, fez uma campanha razoável, mas ficou atrás do Vasco, campeão do 2o turno. Aliás, um dos destaques vascaínos daquela campanha foi a sonora goleada de 7x0 em cima do Botafogo. E, além disso, o time cruzmaltino seguia bem na Taça Libertadores.

Enquanto a finalíssima do Cariocão não chegava, o Flamengo ia eliminando seus concorrentes na Copa do Brasil. River do Piauí, ABC de Natal, Juventude-RS, até chegar no Coritiba. Os dois jogos contra o Coxa seriam intercalados com os dois jogos da final do Carioca, onde o Vasco da Gama possuía a vantagem do empate na soma dos resultados por ter feito melhor campanha geral

Em Curitiba então, vitória do time do Alto da Glória por 3x2, na quarta. No domingo era hora de encarar o Vasco no 1o jogo, num Maracanã lotado. Pela primeira vez naquelas 3 finais, o Flamengo tinha um time que podia entrar como favorito contra o Vasco, mas a vantagem do empate vascaíno deixava as apostas em aberto.

No 1o jogo, o Flamengo saiu na frente no placar, mas o Vasco, o "Time da Virada", conseguiu reverter, sendo que o segundo gol foi do Viola, mais um atacante consagrado daquele time que também tinha o eterno Romário (Edmundo havia ido para o Cruzeiro), que não jogou a final pois estava lesionado. Agora, o favoritismo era todo do Vasco, que podia até perder por 1 gol de diferença e sair campeão, evitando o Tri do rival.

No meio de semana, outro péssimo resultado. O empate no Maracanã contra o Coritiba eliminava o time da Copa do Brasil. Não tinha jeito, para salvar o primeiro semestre de 2001, um milagre havia de ocorrer no domingo, 27 de Maio de 2001. O Flamengo teria que arranjar 2 gols de diferença contra o Vasco.

Ao contrário do esperado, o Maracanã estava predominantemente rubro-negro. A torcida do Vasco também veio em peso, porém os flamenguistas estavam em maior número. Parecia até que era o Flamengo que estava com a vantagem.

E o tal milagre parecia real. O Flamengo começou o jogo apertando o forte time do Vasco e chegou ao gol aos 21 do 1o tempo, num pênalti cobrado por Edílson. A torcida rubro-negra cresceu, era só fazer mais um, mas Juninho Paulista, ainda não afetado pelas lesões que abreviariam sua carreira, empatou o jogo aos 40 do 1o tempo, numa jogada rápida de contra-ataque. Vasco com uma mão e meia na taça e fim de 1o tempo.

O milagre teria que ser maior. E logo aos 8 do 2o tempo, ele se anunciava novamente. Petkovic entra pela esquerda, finta a zaga do Vasco e cruza na cabeça de Edílson. Gol do Capetinha, 2x1 Flamengo. E então, milhares de gols perdidos se seguiriam, tanto pela parte do Flamengo, tanto pela parte do Vasco, que era puxado pelo "filho do vento" Euller. O goleiro Julio César, mesmo com seus 21 anos, já mostrava porquê se tornaria titular da Seleção Brasileira no futuro: fez defesas milagrosas e foi extremamente seguro.

O jogo chegava aos 40 minutos. A torcida do Vasco já cantava "Vice é o c...", em resposta às provocações de vice-campeão vindas do lado rubro-negro das bancadas. Joel Santana, técnico do Vasco na época, era expert em finais de Carioca, e sabia muito bem recuar o time nestes momentos. Zagallo, técnico do Flamengo, segurava seu Santo Antônio na mão e esperava por um milagre. E aos 43 minutos do 1o tempo, Edílson é derrubado numa falta infantil, um pouco afastado da entrada da área.

Dejan Petkovic estreou no início de 2000 pelo Flamengo, já havia enfrentado o Vasco vestido com a camisa do Flamengo, já havia feito um gol de falta nos rivais no ano anterior e até mesmo um gol olímpico. Se Petkovic fizer aquele gol, todos os outros serão praticamente esquecidos. Ainda haveria tempo para o Vasco reagir, mas certamente o time deles ficaria abatido. Mas a falta era um pouco longe, mais longe que aquela do 4x0 de 2000. E Pet cobrou, a bola fez uma curva, Helton (hoje no Porto) se esticou todo... mas não evitou.


Gol do Flamengo. O milagre aconteceu. Petkovic correu para a torcida e, emocionado, jogou-se no chão, onde foi abraçado por todos os seus companheiros de equipe, incluindo o banco de reservas. Ainda havia jogo, mas o Vasco não conseguia criar mais nada. O Flamengo ainda teve a chance de um 4o gol, mas Roma, um promissor jogador da base do Flamengo que entrara no jogo (e que sumiu), desperdiçou a chance. Não importava. O Flamengo conquistava o Tricampeonato Carioca. E o Vasco, mesmo com um time que ganhou quase tudo, era vice pela terceira vez seguida. E ainda seria eliminado da Libertadores pelo Boca Juniors de Carlos Bianchi na semana seguinte.









Naquela época, havia um torneio em Julho chamado Copa dos Campeões. O Flamengo ganharia do São Paulo (que entrou como campeão do Torneio RJ-SP) e se sagraria campeão novamente, mas aí já usava uma camisa nova, com algumas diferenças em relação a primeira feita pela Nike, com duas estrelas a mais (a estrela do tetra-tri + a estrela dourada do Mundial de 81), e que seria utilizada até 2004.

Essa foi a primeira história contada pelo Blog. Como vocês viram, cada camisa tem sua história. Histórias bonitas ou feias, não importa. Sejam bem-vindos à Mantoteca.

Curiosidade: foto do Jornal do Brasil da apresentação dos uniformes de 2000 da Nike:
Jogo completo da final do Carioca 2001: