quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Alemanha 1994/95 - Os últimos suspiros de uma geração vitoriosa.

Olá acompanhantes da Mantoteca.
Como já devem ter percebido, estou há bastante tempo sem postar. Isso devido à minha mudança para a Alemanha, onde viverei por um tempo. Agora, enfim, já em terras estrangeiras, poderei voltar a atualizar o Blog constantemente.

E como o assunto é Alemanha, o tema não poderia ser outro. Hoje, diretamente da Mantoteca, falarei de uma relíquia que consegui com um amigo: o uniforme da Seleção Alemã de 1994.


Como podem perceber, este uniforme é a evolução dos seus dois antecessores, duas camisas que também têm muita história para contar. A começar pelo uniforme de 1988, que ficou mais conhecido dois anos depois pelo simplório motivo mostrado na foto abaixo:


Lothar Matthäus e o troféu da Copa do Mundo, em 1990. A Seleção Alemã, comandada pelo "Kaiser" Beckenbauer (junto ao Zagallo, o único que ganhou Copa como treinador e jogador), mesmo desacreditada depois de ter parado na Holanda de Van Basten, Gullit e Rijkaard na Euro de 1988 (que foi disputada na própria Alemanha Ocidental), conseguia superar a Argentina de Maradona na final, vingando a derrota de 1986, e conquistando o Tricampeonato, empatando então com Brasil e Itália.

 Em Novembro de 1989, o famigerado Muro de Berlim era derrubado e as fronteiras entre Alemanha Ocidental e Oriental foram reabertas depois de longos 28 anos. Era dado o primeiro passo para a Reunificação Alemã, que se concretizaria quase um ano depois, em 3 de Outubro de 1990. A Copa do Mundo ocorreu na vizinha Itália, em Junho, ainda com as duas Alemanhas divididas. A Seleção de 1990 foi a última que representou apenas um lado do país, porém, num momento muito especial de sua História.

O uniforme criado em 1988 e utilizado até 1991, já com a Alemanha reunificada, na minha opinião, é uma das indumentárias de futebol mais bonitas de todos os tempos. Foi o primeiro uniforme alemão com detalhes bem visíveis de sua bandeira tricolor (que tem uma combinação de cores perfeita: preto, vermelho e dourado), antes as cores da bandeira ficavam limitadas no máximo aos punhos da camisa, em detalhes menores. É um uniforme que um dia ainda conseguirei colocar na minha Mantoteca.



Em 1992, às vésperas de uma nova Euro, na Suécia, a Alemanha fez um novo uniforme, também com detalhes remetendo as 3 cores da bandeira, só que agora apenas nas mangas. Foi também o primeiro uniforme alemão com o logotipo atual da Adidas, que era utilizado na época em camisas especiais da marca, as chamadas "Adidas Performance".



A Alemanha em 1992 chegava mais uma vez na final. Porém, o desfecho na Euro foi diferente de 1990. Surpreendidos pela Dinamarca (que entrou de convidada na competição, após a suspensão da Iugoslávia pela UEFA devido à eclosão da Guerra dos Balcãs), perderam o jogo final por 2x0. Mesmo assim, a Seleção Alemã ainda era favorita ao título de 1994, para o terror do Brasil, que vivia má fase e ainda corria o risco de ver outra seleção assumindo o posto de mais vitoriosa do Mundo.

Um destaque para o também surpreendente uniforme da Dinamarca campeã de 1992. Também procurado pela Mantoteca:


Como na época (regulamento que valeu até 2002) o campeão da Copa anterior classificava-se diretamente para a Copa seguinte, a Alemanha não teve que se preocupar com as Eliminatórias Europeias, onde gigantes como Inglaterra e França sucumbiram. O time germânico apenas realizou amistosos enquanto se preparava para desembarcar na América do Norte em 1994.

E então, chegou o ano de mais uma Copa do Mundo. A primeira Copa em que a Alemanha voltaria a disputar depois da Reunificação. E para esse momento especial, mais um belo uniforme foi confeccionado. Aquele que foi feito para ser o uniforme do Tetracampeonato. E então começamos a contar as histórias que essa camisa alemã tem para dizer.


A estreia dessa camisa não poderia ter sido de forma melhor: vitória de 2x1 em cima da rival e carrasca histórica Itália num amistoso disputado em casa, em Março de 94. E foi de virada, após sair perdendo por 1x0, gol de Dino Baggio, Klinsmann marcou duas vezes e consagrou a vitória.


O próximo compromisso alemão foi no calor dos Emirados Árabes, contra a seleção local. Vitória fácil por 2x0. Porém, o susto veio um mês antes do início da Copa, em Maio. Contra a Irlanda, jogando em casa, na cidade de Hannover, uma derrota por 2x0. Era hora de acender o sinal amarelo.


O fatídico mês de Junho chegou. E enquanto a hora de embarcar para a Terra do Tio Sam não chegava, os alemães faziam mais dois amistosos. O primeiro, uma fácil vitória sobre a vizinha Áustria jogando em Viena: 5x1. O segundo jogo, já em território norteamericano, um triunfo de 2x0 sobre o escasso futebol do Canadá, em Toronto.


E o momento tão aguardado chegou. 17 de Junho de 1994. Contando com vários remanescentes do Tri de 1990: o goleiro Illgner, Andreas Brehme (autor do gol do título de 90), Kohler, Buchwald, Möller, Riedle, o eterno meia Lothar Matthäus (que foi jogar sua 4a Copa - e ainda jogaria em 1998), o goleiro reserva Köpke, Rudi Völler, Berthold e, por fim, o artilheiro Klinsmann. Um destaque daquele time era o jogador Mathias Sammer, atacante que defendeu a Alemanha Oriental e naqueles dias se destacava no Borussia Dortmund e na Seleção Alemã Reunificada. E também destacam-se o meia Stefan Effenberg e o terceiro goleiro Oliver Kahn, estreantes em Copas, ambos com 25 anos na época.

O treinador não era mais Beckenbauer, que em 1994 assumia a presidência do Bayern de Munique. Desde o final da Copa de 1990, o treinador da Seleção Alemã era Berti Vogts, até então interino do Kaiser. Tentando manter o ritmo que consagrou o Tricampeonato, a Alemanha chegava aos Estados Unidos pronta para buscar o Tetra.

Até 2002, a seleção campeã do Mundo na outra edição fazia o jogo inaugural da Copa. A partir de 2006 é que o anfitrião começou a dar o pontapé inicial. Em 1994, a Alemanha, na sua condição de campeã do Mundo, estreava no calor do verão de Chicago contra uma surpresa vinda da América do Sul. A Bolívia, de jogadores como "El Diablo" Etcheverry, que havia deixado o tradicional Uruguai para trás nas Eliminatórias Sul-americanas.

Aquela Bolívia ficou conhecida por ser forte mesmo jogando fora da altitude de La Paz. Mas não era o bastante para parar os até então campeões do Mundo. Klinsmann deixou sua marca aos 16 do 2o tempo, e já no fim do jogo, aos 37, o craque boliviano Etcheverry ganhava destaque. Não por ter feito um gol, ou uma jogada bonita. Mas por ter sido expulso. Fim de jogo, e confirmado o favoritismo alemão. 1x0.


O próximo jogo em Chicago prometia ser mais difícil. A sempre complicada Espanha, dessa vez vindo com a base que foi campeã olímpica em 1992 e boa parte daquele "Dream Team" do Barcelona do início dos anos 90, contendo jogadores como o eterno goleiro Zubizarreta, Hierro, Sergi, o atual técnico do Bayern de Munique Pep Guardiola, Luis Enrique e Bakero. Como previsto, foi um jogo complicado. A Espanha largou na frente, aos 14 do 1o tempo, com gol de Goikoetxea. Mas, logo no começo do 1o tempo, Klinsmann empatou a parada. E terminou 1x1.


De Chicago, hora de partir para o Texas. Em Dallas, o terceiro jogo da fase de grupos seria realizado. Aquele que foi registrado como o jogo mais quente de uma Copa do Mundo: a temperatura no gramado atingiu mais de 40 graus. Sob um intenso calor, a Seleção Alemã jogou o suficiente para abrir 3x0 contra a fraca Coreia do Sul. E mesmo assim ainda levaria 2 gols. Alemanha classificada para o mata-mata como líder de seu grupo. Depois de três jogos que não provaram muita coisa.


Na fase eliminatória da Copa do Mundo, os alemães voltavam para Chicago e encaravam um adversário perigoso. A Bélgica, que possuía em seu plantel jogadores como o excelente goleiro Preud'homme e o meia Enzo Scifo. Na Copa anterior, a Bélgica só caiu na prorrogação contra a Inglaterra nas oitavas de final. E nessas oitavas de 1994, era hora da Alemanha passar pela forte seleção da terra dos Smurfs e do Tintin.

O jogo começou movimentado. Völler abriu o placar aos 6 minutos da etapa inicial, mas Grün empatou dois minutos depois. Eis então que o matador Klinsmann, 3 minutos depois do empate, desempatou novamente a partida. A Alemanha só não fez mais gols pois o goleiro Preud'homme fez uma atuação de gala, o que possibilitou ao time belga brigar com firmeza. Mas Völler, novamente, aos 40 do 1o tempo, fez mais um gol e abriu a vantagem de 3x1. A Bélgica tentou segurar a Alemanha, mas o outro gol belga só saiu aos 45 do 2o tempo, o que não adiantou muito. Placar final: 3x2, e o sonho alemão de um Tetracampeonato estava apenas a três jogos de distância.


O próximo adversário das quartas-de-final prometia ser mais fácil. Afinal, a Bulgária não tem tradição nenhuma em Copas do Mundo. Em 1994 era a primeira vez que a seleção búlgara passava da fase de grupos. Mesmo tendo eliminado a França nas Eliminatórias e goleado a Argentina na fase de grupos, ninguém ainda levava a sério a equipe do Leste Europeu. Passou de fase nos pênaltis contra o México, o que aumentava ainda mais a desconfiança.

New Jersey, 10 de Julho de 1994. Faltavam apenas 7 dias para que o Tetra se consolidasse. Entram em campo a Alemanha, defensora do título mundial, e a Bulgária, que apenas assustava com o terrível artilheiro do Barcelona Hristo Stoitchkov, além da "beleza inversa" do zagueiro Trifon Ivanov. Haviam outros bons nomes, como o calvo Letchkov e Balakov, ambos meias. Mas nada que pudesse botar muito medo na forte Alemanha.

E realmente, não havia motivos para ter medo. Quando Matthäus abriu o placar, de pênalti, aos 2 minutos do 2o tempo, tudo parecia encaminhado para uma vitória alemã e a consequente classificação para as semis. Mas aos 30 minutos, uma falta na entrada da área mudaria toda a história daquele jogo. O artilheiro Stoitchkov bateu com perfeição. Tudo igual. Mas o golpe de misericórdia viria dois minutos depois, quando, de cabeça, Letchkov fez o 2o gol e virou o jogo. A Alemanha sentiu o gol e parou de atacar como estava antes da virada. E assim foi até o final. A Bulgária surpreendia novamente. A poderosa Alemanha campeã do Mundo estava fora da Copa.


A Alemanha cansou tanto o time búlgaro que a surpresa acabou parando na semi-final. Roberto Baggio, o artilheiro da Itália, marcou duas vezes em 4 minutos, no meio do 1o tempo. Mesmo assim, a raçuda Bulgária tentou reagir, com um gol de pênalti de Stoitchkov. Não deu. A final seria Brasil X Itália, e um deles sairia Tetracampeão, o que a Alemanha tanto quis naquele ano. Para nossa alegria, o título foi brasileiro, mas isso é outra história (a camisa do Tetra do Brasil está na Mantoteca).

Após a ressaca da Copa de 1994, já chegava a hora de se preparar para a Euro de 1996, que seria disputada na Inglaterra. As eliminatórias começariam ainda em 94. Enquanto os jogos importantes não vinham, dois amistosos foram realizados: uma vitória por 1x0 sobre a Rússia em Moscou e um empate contra a Hungria em Budapeste.


E então, começaram as eliminatórias para a Euro 96. Contra as fracas seleções da Albânia e da Moldávia, vitórias por 2x1 e 3x0, respectivamente, jogando nos países deles. E ainda em Dezembro de 1994, o jogo de volta contra a Albânia, um novo 2x1, só que em gramados alemães. Vale ressaltar que a seleção ainda era basicamente a mesma da Copa e o técnico Berti Vogts foi mantido no cargo, como um voto de confiança.

 


1995 chegou, e agora a meta era a Euro 96. Aos poucos, a ressaca da Copa de 1994 ia se curando. E logo no 1o jogo do ano, em Fevereiro, a reedição de um confronto daquela Copa: novamente um jogo contra a Espanha, num amistoso disputado em terras ibéricas. E novamente um empate, dessa vez sem gols.


Hora de voltar às Eliminatórias da Euro. Contra a fraca Geórgia, vitória por 2x0 no campo rival. Contra o País de Gales, jogando em casa, um decepcionante empate por 1x1. Os galeses contavam com nomes como Ian Rush (ídolo do Liverpool) e Vinnie Jones (aquele mesmo que viraria ator).



A Alemanha estava há 8 jogos invicta. Desde a fatídica derrota na Copa que o time não perdeu mais. Pois então, novamente aparecia a nova carrasca da Alemanha: a Bulgária. Num jogo válido pelas Eliminatórias, jogando na capital búlgara Sófia, novamente a Alemanha largava na frente no placar, com um gol de Klinsmann aos 11 do 1o tempo. E aos 44, o time alemão ampliava o placar, com um gol de Strunz. Dessa vez, a vitória estava mais do que certa.

Ledo engano. Apenas um minuto depois, pênalti para a Bulgária. E o matador Stoitchkov diminui o placar. E novamente, a Alemanha sofre uma virada-relâmpago dos búlgaros. Stoitchkov empata em novo pênalti aos 21 minutos do 2o tempo e, apenas três minutos depois, Kostadinov consolidava a virada. De 2x0 para 2x3, mais uma virada para a Bulgária. Mais uma derrota dolorida.


Em Julho de 1995, pausa nas eliminatórias para a disputa de um torneio que comemorava o centenário da Federação Suíça de Futebol. E logo de cara uma pedreira: jogo contra a vice-campeã mundial Itália. Mas a Alemanha mostrou sua força e logo no 1o tempo deu números definitivos ao placar: gol de Helmer aos 4 minutos e um inesperado gol contra de Maldini deram os 2x0 para os alemães.


No jogo final, contra a anfitriã Suíça, Hassler abriu o placar aos 18 do 2o tempo, Knup empatou aos 30 e Möller fez o gol do título do torneio aos 38. O que pode servir para revigorar a disposição alemã nos jogos eliminatórios para a Euro.


Os próximos jogos das Eliminatórias para a Euro da Inglaterra seriam decisivos. Após a derrota para a Bulgária, mostrou-se novamente que o time alemão não era imbatível. Antes disso, mais um amistoso que reeditava a Copa de 1994: Bélgica X Alemanha. Dessa vez, em território belga. Möller abriu o placar aos 6 minutos do 1o tempo, mas Goosens empatou aos 17. Mesmo assim, Bobic deu o número final ao jogo aos 39 do 2o tempo: 2x1 Alemanha


Nos 3 jogos seguintes pelas eliminatórias, o que se viu foi um passeio alemão. Começando pelo 4x1 na Geórgia em casa. Depois, também em casa, 6x1 na Moldávia. No País de Gales, 2x1 contra os locais. Jogo que teve dois gols contras. O primeiro de Andy Melville, aos 30 do 2o tempo, e três minutos depois, gol contra de Helmer. Porém, Klinsmann enfim acertou o gol certo aos 35 e deu a contagem final.




A Alemanha estava praticamente classificada. Mas o jogo final das Eliminatórias contra a Bulgária serviria para tirar essa pedra do Leste Europeu de dentro do sapato alemão. 15 de Novembro de 1995, no histórico Estádio Olímpico de Berlim, o derradeiro jogo das Eliminatórias começava. E aos 2 do segundo tempo, parecia mais uma vez que a freguesia se consolidaria. Stoitchkov não perdoou e abriu 1x0. Seria o fim de uma série de seis vitórias seguidas da Alemanha?

Três minutos depois, Klinsmann mostrou que não haveria uma terceira vez. Com o jogo empatado, restou a Thomas Hassler marcar mais um gol aos 11 do 2o tempo. E no melhor estilo "sai zica", o artilheiro Klinsmann fez, de pênalti, o gol que consolidou a vitória da Alemanha, aos 31 minutos. Mesmo com a derrota, a Bulgária também se classificou para a Euro. 





Depois da sensacional série de 7 vitórias seguidas, a Alemanha ainda teria um último compromisso em 95: um amistoso contra a África do Sul em Johannesburgo. Quem esperava a oitava vitória consecutiva do time alemão se decepcionou: o jogo terminou 0x0.

Em Fevereiro de 1996, ainda usando o uniforme apresentado pela Mantoteca, a Alemanha foi para a cidade do Porto, em Portugal, e venceu os locais por 2x1, com dois gols de Möller, já se preparando para o torneio que viria. Era a última vez que o time alemão usaria essa camisa, já que no amistoso contra a Dinamarca no mês seguinte estaria vestindo o novo modelo, mais simples e mais clássico


Abaixo, imagem do uniforme utilizado pela Alemanha entre 1996 e 1997. As cores da bandeira alemã voltaram a ficar discretas na camisa.



Com o uniforme acima, a Alemanha garantiria seu último grande título: a Euro de 96. Como podemos ver nessa postagem, o uniforme usado anteriormente também tem sua parte nessa conquista, afinal foi utilizado durante todos os jogos das Eliminatórias para a competição. Embora a cicatriz da eliminação para a Bulgária na Copa de 1994 ainda esteja visível em cada camisa daquelas.

Desde então, a Alemanha vem formado grandes times, chegando em finais como a da Copa de 2002 e a da Euro 2008, além de fazer ótimas campanhas como a da Copa de 2010 e a da Euro 2012. Porém, sempre vem batendo na trave, e desde 1996 não surge nenhum título de expressão para uma seleção tão tradicional que possui três Copas do Mundo e três Eurocopas. Será que a geração atual da Alemanha, de Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Müller, Khedira, Özil, Gomez, Reus, Götze, Gündogan, Hummels e tantos outros jogadores excepcionais escreverão o seu nome em 2014, no Brasil? Vamos esperar para ver.