Evidente que a camisa mais famosa que vestiu Cruyff foi a de sua seleção nacional. A camisa laranja da Holanda já é chamativa naturalmente, na Copa de 1974 então a "Laranja Mecânica" dominou o mundo. Ou quase isso, já que os donos da casa da Alemanha Ocidental não permitiram. Naquela época, as três listras da Adidas já começavam a adornar os uniformes de suas seleções fornecidas, como a própria Holanda. Menos na indumentária de um jogador: Cruyff. Ele era patrocinado pela rival Puma e suas camisas possuíam apenas duas listras, que junto do número 14, eram sua marca registrada.
No Ajax, time que o revelou, o manto de desenho único com sua faixa vermelha horizontal combinava com a elegância de seu futebol. Fez essa camisa ser temida não só na Holanda, mas na Europa inteira, com três títulos consecutivos da Copa Europeia (a atual Liga dos Campeões). Ainda faturou uma Supercopa da Europa contra os vencedores da Recopa Europeia (torneio que reunia apenas os ganhadores das copas nacionais, extinto em 1999) e, claro, um Mundial Interclubes após vencer o Independiente argentino que dominava a América do mesmo jeito que o Ajax fez na Europa entre 71 e 73.
No Barcelona o holandês realmente revolucionou o time. Chegou em 73, logo depois de ganhar mais um título europeu pelo Ajax. Quebrou um jejum de 14 anos com o Barça em La Liga e ainda faturou uma Copa do Rei. Saiu em 1978 para jogar na emergente NASL dos Estados Unidos. Mas o legado maior de Cruyff no Barça seria mesmo em seus oito anos de treinador. Implementou a filosofia holandesa do "Futebol Total" no time e fez os catalães virarem uma máquina.
De 1988 até 1996 foram quatro campeonatos locais consecutivos, uma Copa do Rei, uma Recopa Europeia, uma Supercopa Europeia e a Copa da Europa de 1992, o maior título do time até então. Na final contra a Sampdoria, os comandados de Cruyff usaram uma cor de uniforme bem sugestiva: laranja. A mesma cor da Holanda de Johan e uma cor que se tornaria muito comum nos anos seguintes como alternativa ao Blaugrana titular.
A filosofia do holandês foi tão impregnada ao time catalão que, das categorias de base até a equipe profissional, todos seguiam o mesmo estilo de jogo. O Tiki-Taka derivado do Futebol Total permaneceu no Barça como legado eterno dos anos de Cruyff, e até hoje o mundo se assombra vendo os catalães jogarem. Influência essa que se espirrou até na própria seleção espanhola, ajudando-os a ganhar sua primeira Copa do Mundo em 2010.
Cruyff ainda teve tempo de vestir uniformes inovadores em sua passagem pela Terra do Tio Sam. Acima, pode-se ver a camisa dos Washington Diplomats, time da capital dos EUA. Destaca-se também como a Adidas, mesmo no início dos anos 80, conseguia produzir camisas com suas três listras de forma inovadora, usadas como faixa diagonal (já imaginou o River Plate usando esse recurso?). A mesma Adidas que foi renegada pelo Cruyff em 74. O holandês ainda passou pela Califórnia antes, jogando pelo Los Angeles Aztecs. E na mesma época ainda voltou a vestir azul e grená na Espanha, só que o do Levante, entre 1980 e 1981.
Depois da aventura fora da terra natal, o bom filho à casa tornou. Cruyff já não era mais o mesmo, já com sua idade pesando, e o uniforme do Ajax também não. A época dos patrocínios no futebol estava em curso, e o time de Amsterdã estampava a marca japonesa TDK, que ficou no clube até 1991. O galo da Le Coq Sportif assinava o fornecimento dos uniformes. Ganhou mais duas vezes a Eredivisie (o campeonato holandês) e uma vez a Copa Holandesa.
E para desespero do torcedor do Ajax, Cruyff também vestiria a camisa do arquirrival Feyenoord em 1984, com 37 anos nas costas. E jogando em Roterdã encerrou sua carreira ganhando um Doblete: Campeonato + Copa Local. Vestiu também o icônico uniforme alvirrubro, com o amarelo do patrocinador se intrometendo. E assim encerrou sua carreira de jogador. Depois voltaria ao Ajax para começar sua bem-sucedida carreira de treinador.
Definitivamente, uma grande perda no futebol. Mas o legado ficou e se manterá para sempre. Camisa laranja, número 14 nas costas, duas listras nos ombros. Daqui a 100 anos ainda reconhecerão o manto de Johan Cruyff. Descanse em paz.