Essa foi a primeira camisa feita pela Diadora para a seleção de seu país. Após usar a marca francesa Le Coq Sportif na campanha inesquecível de 1982 e no fracasso na Euro 1984, a Diadora assumiu a responsabilidade de fornecer os uniformes da Azzurra. Como de costume, a marca do fornecedor na camisa só aparecia em alguns modelos de loja (costume mantido pela Itália até 2000, quando o símbolo da Kappa apareceu nas mangas do também histórico uniforme daquele ano). Mas a principal mudança foi no desenho do escudo, que foi totalmente modificado e arredondado. As três estrelas das Copas conquistadas foram colocadas dentro do escudo novo. Uma nova alteração seria feita em 1991, quando a Itália remodelou seu escudo para um novo desenho bem mais estranho que duraria até 1999, quando a Kappa retornaria com o escudo clássico (em 2006 o escudo sofreria outra mudança, respeitando o formato original, mas com algumas inovações no desenho. Esse distintivo é usado até hoje). A Diadora ficaria até 1995 com a Itália, dando lugar à Nike, que forneceria até 99, quando a Kappa chegou. Desde 2004, a Itália tem seus uniformes feitos pela alemã Puma.
No caso da minha camisa, o símbolo da Diadora aparece apenas na etiqueta de dentro, como nas camisas de jogo (embora essa seja modelo de loja). Bem simples, como eram as camisas da Itália até 91, quando a marca já aderiu a onda daquela época de aplicar inúmeras marcas d'água geométricas por todo o uniforme. Bom, está na hora de contar a história dos homens que usaram esse uniforme nos gramados.
Sobre 1982, acho que só basta citar palavras-chave como "Melhor Seleção Brasileira dos Últimos 40 Anos", "Zico", "Telê Santana" até passar para outras como "Paolo Rossi". Pois é, essa história de 82 já foi contada e recontada inúmeras vezes, vamos passá-la. A mesma Seleção Italiana que surpreendeu o mundo foi um fiasco ao tentar se classificar para a Euro 1984, ficando atrás da Romênia, Suécia e Tchecoslováquia no grupo eliminatório. Como foi campeã da Copa do Mundo, não precisou disputar as Eliminatórias (regra que valeu até 2002, quando até os campeões do Mundo tiveram que entrar nas disputas continentais pela vaga no Mundial).
O grupo da Itália na Copa de 86 era mediano. A Argentina de Maradona, depois de ter sido eliminada junto com o Brasil em 1982 para a Itália na 2a fase da Copa de 82, estava novamente perante os italianos. O resto não assustava. A Bulgária nunca sequer havia vencido um jogo de Copa e a Coreia do Sul era cogitado como o maior saco de pancadas. Numa época onde até os quatro melhores terceiros colocados de cada grupo se classificavam para o mata-mata, o risco de a Itália ir pra casa mais cedo, mesmo com a tradição italiana de suar para passar da fase de grupos, era ínfimo.
A Itália contava com inúmeros jogadores de 82, como o zagueiro Scirea, o lateral-esquerdo Cabrini, o atacante Altobelli, além do comando de Enzo Bearzot. Paolo Rossi acabou sendo cortado do time por causa de uma lesão. E assim, os italianos estreariam contra a Bulgária, abrindo a Copa no dia 31 de Maio de 1986, no gigantesco Estádio Asteca. Como na maioria dos jogos de abertura das Copas, foi decepcionante: Altobelli chegou a abrir 1x0 no fim do 1o tempo, mas Sirakov empataria para os búlgaros no final do jogo.
O segundo jogo, dia 5 de Junho, na cidade de Puebla, seria contra os temidos argentinos. Os "hermanos" haviam vencido a Coreia por 3x1 na 1a rodada e eram líderes do grupo. E como no primeiro jogo, Altobelli abriu o placar de pênalti, aos 6 do 1o tempo, mas aquele que seria o nome daquela Copa, Diego Armando Maradona, faria o gol de empate, ainda na primeira etapa. Mas "El Pibe" não conseguiu mais fazer nada contra os italianos. E o jogo terminou 1x1 novamente para a Itália.
O terceiro e último jogo da fase de grupos seria contra a fraca Coreia do Sul. A Itália não tinha uma memória boa em relação as Coreias. 20 anos antes, a Coreia do Norte (ela mesma!) impôs uma das maiores zebras futebolísticas da História das Copas ao vencer os italianos por 1x0 na Inglaterra. Então, todo cuidado seria pouco. Novamente, Altobelli inaugurou o marcador naquele dia, aos 17 do primeiro tempo. Mas aquele dia 10 de Junho mostraria ao mundo novamente a velha tradição italiana de sempre passar dificuldades nas fases de grupo. A Coreia empatou aos 17 do segundo tempo. Altobelli desempataria 11 minutos depois e outro sul-coreano aumentaria a fatura marcando contra. Parecia fácil? A Coreia marcaria um gol a favor no minuto seguinte. E os italianos só acreditariam naquela primeira vitória no torneio quando o juiz apitou o final da partida. A Argentina venceria a Bulgária por 2x0 e classificaria-se em primeiro e a Itália, com a vitória na rodada final, foi para a fase de mata-mata como 2a melhor de seu grupo. No final, até a fraca Bulgária com míseros 2 pontos conseguiria sua vaga na fase eliminatória por ter sido uma das melhores seleções na 3a colocação.
A Itália enfrentaria um adversário forte logo nas oitavas: a França de Michel Platini, que ostentava o título de melhor seleção da Europa naquela época, afinal, era a Campeã da Euro 1984. E o atual presidente da UEFA e ídolo da italiana Juventus foi quem inaugurou o placar naquele dia, aos 15 minutos. Jogando no Estádio do Pumas UNAM, na Cidade do México, a Itália não conseguiu segurar os vizinhos franceses. Stopyra, atacante francês, ampliou o placar no segundo tempo. Os italianos davam adeus à chance de conquistar o Tetra e ser a seleção mais vitoriosa de todas. A França? Também tiraria a mesma esperança do Brasil na fase seguinte e seria parada pela Alemanha Ocidental na semifinal, como em 1982. Mal sabiam os franceses que 20 anos depois teriam o troco dado pelos italianos, mas essa é outra história.
A Copa de 1990 seria muito especial. Afinal, ocorreria na própria Itália, assim como em 1934, na época de Mussolini. Mas antes dela ainda havia a Euro 1988, na Alemanha Ocidental. E dessa vez, a Itália conseguiu sua classificação, sendo líder num grupo que tinha Suécia, Portugal, Suíça e Malta, com seis vitórias, um empate e apenas uma derrota, para os suecos. O que permitiu o acesso italiano ao torneio europeu.
A estreia italiana seria logo contra os donos da casa, no dia 10 de Junho de 1988, em Düsseldorf. A freguesia alemã perante os italianos, que já era notável desde aquela época, poderia ser um fator importante. E parecia que a sina continuaria: Roberto Mancini abriria 1x0 aos 7 minutos, mas Andreas Brehme logo empatava em 1x1 três minutos depois. Se a Alemanha Ocidental continuava sem vencer os italianos, pelo menos não perdeu em casa. Destaque para o uniforme usado pelos alemães: é o modelo clássico da Adidas que seria eternizado em 1990.
A Itália encarava a Espanha na segunda rodada, em Frankfurt. A vice-campeã da Euro anterior não segurou os italianos e Gianluca Vialli fez o único gol do jogo.
Para não passar sufoco na última rodada, era quase obrigatório deter a Dinamarca, que ainda era idolatrada como a "Dinamáquina" que encantou o mundo no ano anterior. Altobelli e De Agostini fizeram os gols italianos, no 2o tempo da partida em Colônia, selando a classificação. Ficaram em 2o lugar, atrás da Alemanha Ocidental por ter um gol a menos no saldo de gols.
Naquela época, a Euro era mais enxuta, com menos times. Então, a Itália classificou-se para enfrentar o temido líder do outro grupo do torneio nas semis, a União Soviética. O sonho de quebrar o jejum de 20 anos sem ganhar o torneio europeu acabou perante os soviéticos em Stuttgart. Dois jogadores ucranianos da URSS fizeram os tentos que desqualificaram o time do torneio, Lytovchenko e Protasov, ambos atuavam no Dínamo de Kiev, que possuía relevância considerável no cenário europeu na época (foi campeão da Recopa Europeia 2 anos antes). E a Itália então começaria a se preparar para a Copa que iria sediar.
Naquela época já era comum as seleções trocarem de uniforme para disputar a Copa. O Brasil aposentou o uniforme de 1986 e lançou um novo para 1990 depois de sair bem-sucedido nas Eliminatórias, com Fogueteira e tudo. A Holanda, que foi campeã da Euro 88 com um icônico uniforme estampado, trocou a indumentária por uma mais clássica para a Copa. A Itália foi na contramão, mantendo o uniforme dos fracassos de 86 e 88 para ser usado no torneio. A Alemanha, como citado acima, também manteve a camisa da Euro 1988 para a disputa da Copa de 90.
O Grupo A da Copa, onde a Itália estrearia buscando o Tetra, contava com forças decadentes como a Tchecoslováquia e Áustria, além dos Estados Unidos, voltando a disputar um Mundial depois de 40 anos. Desde 1986, Azeglio Vicini era o técnico da Itália, depois de ter treinado as categorias de base da Azzurra. A Série A italiana vivia um de seus melhores momentos, com times históricos como o Milan dos holandeses, a Inter dos alemães, o Napoli de Maradona e Careca, a Sampdoria, além de outras forças. E o fato de ter muitos estrangeiros nos clubes italianos não quer dizer nada. Jogadores italianos também estavam numa boa fase. É o caso de Franco Baresi, Maldini, Ancellotti e Donadoni, do Milan; Zenga e Serena, da Inter; De Napoli e Carnevale, do Napoli; Vierchowod, da Sampdoria; Roberto Baggio, da Fiorentina; além de um tal de Salvatore Schillaci, que estava na Juventus mas destinado a esquentar o banco naquele Mundial.
Em Roma, dia 9 de Junho de 1990, a Itália estreava contra a Áustria. Rivais históricos, por causa das disputas territoriais do passado, começavam a batalhar na bola. O ataque titular italiano, com Vialli e Carnevale, não conseguiu furar a defesa austríaca. Então, aos 31 minutos, o atacante do Napoli foi substituído por Schillaci. E foi logo o atacante da Juve que abriu o placar, dois minutos depois. E a Itália conseguia sua primeira vitória no torneio. Destaque para o interessantíssimo uniforme da Áustria, fornecido pela Puma, com um grafismo hipnotizante na parte da frente.
Os Estados Unidos, que foram triturados pela Tchecoslováquia no primeiro jogo por 5x1, eram os próximos rivais da Itália. De novo mandando o jogo na capital nacional, os italianos não venceram os americanos com tanta facilidade quanto os tchecoslovacos, mas o gol de Giannini no começo do jogo já bastou para assegurar a vitória.
A vitória da Tchecoslováquia sobre a Áustria por 1x0 classificava por antecipação os italianos para a fase de mata-mata. Mas jogando em casa, não dava para fazer feio. E então, a Itália bateria os tchecoslovacos por 2x0 no último jogo da fase de grupos, classificando-se em primeiro (e sem dificuldades!). Salvatore Schillaci, que começou os dois primeiros jogos no banco, foi promovido à titular e fez o primeiro gol logo aos 9 minutos do 1o tempo. O segundo gol foi de Roberto Baggio, aos 33 minutos do 2o tempo.
Nas oitavas-de-final, um duelo de Campeões Mundiais. A Itália enfrentaria o Uruguai de Hugo de León, Enzo Francescoli e Rúben Sosa. A Celeste Olímpica havia sido vice-campeã da Copa América de 1989, e ainda tinha certo respeito na América Latina. Uma das bases do Uruguai de 90 era o Nacional que ganhou a Libertadores de 1988 e o Mundial de Clubes do mesmo ano. Ou seja, jogo que prometia dificuldades. Mais uma vez jogando em Roma, a Itália apenas abriu o placar no 2o tempo. Autor do gol? Schillaci. O ex-reserva já fazia o seu 3o na competição. Aldo Serena ampliaria aos 38 e o sonho do tri uruguaio acabaria sendo estendido até os dias atuais.
O próximo adversário italiano não parecia tão assustador. A Irlanda, apesar da boa fase de grupos que fez, passou da Romênia apenas nos pênaltis. Era um time que sabia se defender bem. Mas não segurou Schillaci, que mais uma vez deixava sua marca na competição, aos 38 do 1o tempo. Num jogo predominantemente defensivo, acabou prevalecendo a força dos donos da casa. A Itália estava há apenas dois jogos do Tetra Mundial, e apenas ela poderia conquistar essa honraria, já que o Brasil foi eliminado pela Argentina ainda nas oitavas.
Por falar em Argentina, era a própria que aparecia no caminho da Itália mais uma vez. Eliminou a Iugoslávia nos pênaltis, com atuação memorável do goleiro Goycochea. Aquele também seria o primeiro jogo em que a Itália jogaria fora de Roma. A partida seria realizada no Estádio San Paolo, em Nápoles. Isso gerou uma declaração polêmica de Maradona, ídolo do clube local, que afirmou que os torcedores napolitanos torceriam a favor da Argentina por sua causa. Ledo engano. Maradona foi vaiado como nunca naquele jogo, inclusive pelos mais fanáticos torcedores do Napoli. E o roteiro daquela semifinal começou bem: Schillaci marcava seu sexto gol pela Itália, abrindo o placar logo aos 17 minutos da 1a etapa. A Argentina, muito dependente do seu camisa 10, não conseguia passar pela forte zaga italiana. Mas Claudio Caniggia, aos 12 do 2o tempo conseguiu a brecha para fazer o empate. E mesmo com uma prorrogação que durou oito minutos a mais porque o juiz "não prestou atenção ao seu relógio", não saiu mais gol naquele jogo.
A disputa seria nos pênaltis. A Argentina já havia levado o jogo anterior até a série penal. O primeiro pênalti seria cobrado pela Itália, pelo zagueiro Franco Baresi. Goycochea de um lado, bola para o outro, 1x0 Itália. Serrizuela chutou com força, Zenga foi pro lado errado e empatou a série. No segundo pênalti italiano, Roberto Baggio cobrou, Goycochea chegou a espalmar a bola, mas a gorduchinha acabou indo para dentro das redes (é, Baggio e Baresi já acertaram pênaltis, ao contrário do que 1994 mostraria). Burruchaga empatou, mandando a bola para o lado oposto de Zenga, 2x2. De Agostini recolocou a Itália na frente, num chute onde por muito pouco o goleiro argentino não pegou. Olarticochea (aquele que deu água batizada pro Branco) chutou bem no meio, Zenga foi para a esquerda, 3x3.
A disputa de pênaltis parecia que seria interminável como aquele jogo no tempo normal e na prorrogação, até a hora em que Donadoni chegou para a sua cobrança. O jogador do Milan chutou para a direita, mas Goycochea conseguiu espalmar, dessa vez para fora do gol. Tudo o que a Argentina queria. Foi então que o craque Maradona chegou para realizar sua cobrança, todos na expectativa, já que é algo frequente no futebol vermos craques desperdiçarem pênaltis em decisões, exemplos não faltam. Com categoria, bateu rasteiro à esquerda, enquanto Zenga errou mais uma vez o canto. A Argentina passava à frente da Itália na série. Aldo Serena carregava um peso imenso nas costas: era obrigação acertar o pênalti para manter a Azzurra viva na disputa. Bateu no mesmo canto em que Donadoni chutou, e de novo Goycochea pegou. A Itália estava eliminada da sua Copa do Mundo.
Ao invés da finalíssima em Roma, a Itália disputaria o terceiro lugar da Copa na pequena cidade de Bari. Vencer a Inglaterra, que havia sido eliminada pela Alemanha Ocidental, não seria motivo de festa, mas uma derrota faria tudo ficar mais melancólico. A Inglaterra, que estava satisfeita pela campanha feita, até jogou mais (o "English Team" estava numa crise sem precedentes antes da classificação para a Copa de 90). Mas quem abriu o placar foi Baggio, aos 26 do 2o tempo. David Platt ainda empatou aos 36, mas Schillaci, num pênalti aos 41 minutos, fez o gol da vitória e o gol que selou sua artilharia no torneio. Os italianos não tinham muito o que comemorar, mas Salvatore Schillaci podia fazer sua festa: saiu do banco para virar o maior marcador da Copa do Mundo disputada em seu país. Enquanto os italianos nem celebraram tanto a vitória em Bari, os ingleses fizeram uma recepção calorosa ao 4o lugar da Copa de 1990 no retorno deles à Londres. Enquanto isso, em Roma, qualquer um dos finalistas empataria com a Itália em número de títulos mundiais se vencesse. A Alemanha Ocidental (no último ano da divisão das Alemanhas) foi a vencedora e virou a 3a seleção a ser Tricampeã Mundial.
Depois do fracasso em casa, a Itália aposentou o uniforme que ficou quatro anos em serviço. Mas mesmo com novos uniformes, passaria maus momentos naquela década. A final de 1994 contra o Brasil foi um deles, mais uma derrota nos pênaltis. A final da Euro 2000 contra a França (que também havia eliminado-os da Copa de 1998) também foi dolorosa. E a eliminação para a Coreia do Sul em 2002? O Tetra tão perseguido desde 1986 só viria 20 anos depois, quando a Itália enfim deu o troco nos algozes franceses e no trauma dos pênaltis. Apesar disso, faria uma campanha vergonhosa em 2010, saindo na fase de grupos. E na Euro 2012 levaria uma surra histórica de 4x0 da Espanha na final.
Mas mesmo assim, os italianos chegam à 2014 sempre com o respeito que conquistaram ao longo de tantas vitórias e derrotas. Estão num grupo complicado, com dois dos adversários que foram batidos na Copa de 90 (Inglaterra e Uruguai) além da incógnita Costa Rica. Será que a Itália conseguirá empatar com a Seleção Brasileira em número de títulos mundiais em pleno Brasil? Enquanto a Copa não vêm, seguiremos com a Série Copa do Mundo 2014, contando as histórias dos times que estão nesse Mundial com as camisas da Mantoteca. Continue acompanhando!
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