domingo, 23 de fevereiro de 2014

[Série Copa do Mundo 2014] Espanha 1996/97 - O calvário ibérico

Enfim, depois de várias interrupções, prossigo com a série que comecei no fim do ano passado, onde disse que falaria sobre os uniformes das Seleções que jogarão a Copa de 2014 que estão aqui na Mantoteca.

Hoje a Espanha é unanimidade. Ganhou as duas últimas Eurocopas (além de ter outra de 1964, somando 3 títulos europeus, maior campeã do continente junto à Alemanha), a Copa de 2010 e fracassou apenas na Copa das Confederações de 2009, onde foram surpreendidos pelos EUA nas semifinais, e na edição de 2013, onde não conseguiram segurar o Brasil dentro do Maracanã na final. Mas até 2008 a Espanha carregava um outro fardo: o de time amarelão. A camisa que mostro hoje é dessa angustiante época da "Fúria".


Desde 1992, a Espanha é fornecida pela Adidas, em contrato que dura até hoje. A marca alemã chegou a fornecer os espanhóis na Copa de 1982, quando jogaram em casa, mas durante toda a década de 80 e começo dos anos 90 a "Fúria" vestiu uniformes da francesa Le Coq Sportif. Esse uniforme da Mantoteca é de 1996, e substituiu o também ousado uniforme que os espanhóis usaram nos Estados Unidos, na Copa de 1994, como pode-se ver abaixo:


O uniforme que está na Mantoteca foi feito pela Drastosa (que hoje faz uniformes para a Nike no Brasil). E há algumas diferenças entre a camisa versão brasileira e a versão original-europeia. Na versão original, há uma marca d'água grande com o escudo da Real Federação Espanhola de Futebol, além de um patch da bandeira da Espanha na manga esquerda. O selo na parte inferior direita da camisa também é diferente na versão original, nela o "trefoil" da Adidas é substituído pela logomarca da RFEF. Abaixo, uma foto da camisa original.


Além do uniforme vermelho, a Espanha teve como camisa alternativa a versão azul-marinho, que seguia o mesmo template.


Usando esses uniformes, a Espanha estreou na Euro 1996, disputada na Inglaterra, contra a ainda temida Bulgária, que ainda tinha a base do time que chegou ao 4o lugar da Copa de 1994. Stoichkov, o artilheiro búlgaro que jogava no Barcelona ainda naquele ano, fez o gol de pênalti, mas Alfonso, atacante do Real Betis, empatou a partida.


A segunda partida da Espanha prometia ser mais difícil. A França, que também amargava um período de ostracismo (embora menor, já que 12 anos antes havia ganho a Euro) e tinha ficado de fora da Copa dos EUA, já estava com boa parte dos jogadores que fariam parte da histórica conquista da Copa 2 anos depois. E Djorkaeff, um dos jogadores que estaria naquele fatídico 3x0 contra o Brasil em 1998, fez o gol francês aos 3 do 2o tempo. A Espanha, que também contava com bons jogadores como o goleiro Zubizarreta, os meias Hierro e Luis Enrique, conseguiu reagir, empatando o jogo com Caminero, ícone do time do Atlético de Madrid que conquistou a Liga Espanhola naquele mesmo ano, já aos 40 minutos.


A Espanha, por fim, enfrentaria a Romênia, num duelo decisivo para se classificar ao mata-mata. Bulgária e França, ambas com 4 pontos e na zona de classificação, enfrentariam-se também. A Romênia, que também vinha de uma boa participação na Copa de 94, havia perdido os dois primeiros confrontos e já não poderia mais se classificar para a 2a fase. Mesmo ainda contando com jogadores como Gheorghe Hagi, o time do Leste Europeu acabou perdendo o seu 3o jogo por 2x1, gols de Manjarín, do La Coruña e de Guillermo Amor, eterno meia do Barcelona dos anos 90.





Classificada atrás da França, que ficou com o 1o lugar do grupo, a Espanha chegou às quartas de final contra os donos da casa, a Inglaterra. No jogo disputado em Wembley, a partida terminaria empatada em 0x0 mesmo na prorrogação. A vaga então foi decidida na disputa de pênaltis. Shearer iniciou a série de cobranças, convertendo e colocando os ingleses na frente. Hierro chegou para colocar a Espanha no páreo, mas chutou bem no meio do travessão e perdeu a cobrança. Platt aumentaria a vantagem inglesa convertendo sua cobrança, e Amor manteria a Espanha viva também colocando a bola no fundo das redes, com categoria. Pearce, no 3o round de cobranças, mesmo com Zubizarreta acertando o canto, marcaria o seu, obrigando Belsué a também converter, o que aconteceu num bom chute rasteiro. Então, chegou a vez do mítico Paul Gascoigne chutar, e numa bela cobrança, manteve a Inglaterra na frente. A responsabilidade de Nadal, outro jogador que fez história no Barça dos anos 90, era imensa. Se ele errasse, a Espanha estaria fora. E o gigante David Seaman acertou o canto, defendendo com facilidade a cobrança do espanhol, eliminando a Espanha e aumentando o incômodo jejum espanhol em torneios oficiais.


Mesmo com todo o prestígio de ter uma Liga forte nos anos 90, a Espanha continuava a ver navios em termos de títulos. Sempre era cravada como uma força que poderia chegar ao menos até as semifinais, mas no final acabava saindo precocemente da disputa. Foi assim na Copa de 90, quando caiu nas oitavas para a Iugoslávia, na Euro 92, onde nem chegou a se classificar, na Copa de 94, onde foi parada pela Itália que terminaria vice naquele torneio, e novamente em 96. Era hora de pensar na Copa da França, país vizinho, em 1998. Não seria fácil, pois o grupo onde a Espanha estava nas Eliminatórias contava com a mesma Iugoslávia que foi carrasca 6 anos antes, além da República Tcheca que foi vice da Euro 96 para a Alemanha.

Em Setembro de 1996, a Espanha iniciou a caminhada rumo à França  nas frias Ilhas Faroe, contra a Seleção local. Venceu facilmente por 6x2 o time conhecido como um dos maiores sacos de pancadas da Europa. Em Outubro, a missão seria mais complicada: jogo contra a Rep. Tcheca em Praga, empate por 0x0. Em Novembro, um massacre contra a Eslováquia jogando em casa: 4x1, com gols de Pizzi, Amor, Luis Enrique e Hierro. O vídeo abaixo é do jogo contra as Ilhas Faroe




Em Dezembro de 96, um jogo-chave para os espanhóis, a Iugoslávia chegava a Valência para duelar contra os donos da casa. Mas a Espanha mostrou novamente sua força e venceu o jogo por 2x0, com gols do atual técnico do Bayern de Munique, Pep Guardiola, e do eterno artilheiro do Real Madrid, Raúl.Vale lembrar que a Iugoslávia em 1996 já se limitava aos atuais territórios da Sérvia, Montenegro e Kosovo, e perdeu muitos dos jogadores que fizeram parte do time de 90, que foram brilhar em outras seleções, como na forte Croácia que despontou naquela época.

Ainda em dezembro, a Espanha viajou até Malta para enfrentar a fraca seleção local. Um passeio de 3x0 com um Hat-Trick de Julien Guerrero, meia-atacante que fez toda a sua carreira no Athletic Bilbao. A "Fúria" estava firme e forte no caminho para a França e, quem sabe, para o tão sonhado título mundial.

Em Fevereiro de 97, começava o returno da fase eliminatória. E em Alicante, Malta levou outra surra, dessa vez de 4x0, com dois gols de Alfonso, Pep Guardiola e Pizzi. O jogo seguinte, em Abril, seria muito mais complicado: a Iugoslávia aguardava os espanhóis no Marakana (sim, o nome é homenagem ao estádio carioca) , o estádio do Estrela Vermelha, em Belgrado. A Espanha ainda saiu na frente por todo o jogo, com gol de Hierro de pênalti aos 19 minutos da 1a etapa. Mijatovic, atacante que atuava na Espanha, pelo Real Madrid, fez o gol que igualou a partida aos 42 do 2o tempo, também de pênalti. Mas o time espanhol, mesmo com o empate, permanecia líder de seu grupo.

O jogo de Junho de 1997 contra a Rep. Tcheca era essencial para deixar a Espanha praticamente dentro da Copa. E Hierro voltou a marcar de pênalti, o único gol da partida. E a "irmã" dos tchecos, a Eslováquia, novamente apanharia dos espanhóis, em Bratislava, os gols da "Fúria" foram marcados por Kiko e Amor no jogo que terminou 2x1. E a Espanha só dependia da vitória contra as Ilhas Faroe jogando em Gijón para garantir o primeiro lugar e a vaga direta na Copa. O placar "magro" de 3x1 foi mais do que suficiente. A Espanha estava de volta à Copa do Mundo. 

A Iugoslávia foi empurrada para a repescagem, onde venceria a Hungria e também garantiria a vaga na Copa de 98. Mas a excelente campanha espanhola nas Eliminatórias, com 8 vitórias e 2 empates, num grupo relativamente difícil, alavancou novamente o status de "seleção que pode chegar longe" que a Espanha adquiriu por todos estes anos. Para 98, a Espanha aposentou o uniforme da Euro 96 e das Eliminatórias e lançou outro modelo, um pouco mais conservador que o uniforme de 1996.






O fracasso ainda na fase de grupos em 1998 aumentou ainda mais o calvário ibérico. E foi assim nas Euros e Copas seguintes, até 2008, onde a Espanha conseguiu enfim quebrar o jejum, culminando com a Copa de 2010 e a Euro 2012. Hoje em dia, a camisa vermelha da Espanha é muito temida, ao contrário daquela triste época dos anos 90, onde os espanhóis não conseguiam se livrar do estigma de "amarelões".


Bem, esse foi o segundo post da Série Copa do Mundo. O próximo será sobre a Holanda, cuja camisa da Mantoteca está bem separada aqui. Como tô de folga nessa semana (voltarei para o Brasil no começo de Março), é possível que ele saia rápido. Aguardem!

Um abraço!






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Clubismo é PROIBIDO.

Aqui não é o site do Globoesporte. Então asneiras clubistas não serão publicadas.

Obrigado