Como vocês podem ver, ando bastante atarefado aqui na Alemanha, e por isso está me restando pouco tempo para atualizar o blog.
Falando em Alemanha, na sexta da semana passada pudemos presenciar uma revanche histórica. Depois de ter perdido a final da Liga dos Campeões de 2011/12 em casa, depois de sair ganhando e acabar perdendo nos pênaltis, o Bayern de Munique, jogando em Praga (Rep. Tcheca), teve a chance de dar o troco na mesma moeda no Chelsea pela Supercopa da Uefa, algoz daquela ocasião. Dessa vez foi o time inglês que saiu na frente (por duas vezes), levando o gol do empate no último minuto da prorrogação. E acabou perdendo nos pênaltis, exatamente onde havia saído triunfante na outra vez.
Sem dúvida nenhuma, o Bayern de Munique de 2013 é um time que já estampou o seu nome na História do Futebol, já com uma Quádrupla Coroa (Bundesliga, Copa da Alemanha, Liga dos Campeões e Supercopa UEFA - ainda falta o Mundial de Clubes fim do ano, que pode ser o 3º da história do time). Munique está em festa (comprovado pessoalmente por mim) com o time treinado por Pep Guardiola e dos astros Neuer, Dante, Lahm, Alaba, Schweinsteiger, Ribéry, Kroos, Götze, Robben, Müller, Mandzukic e muitos outros jogadores de nível extraordinário.
Mas hoje, apesar de conter na minha Mantoteca a camisa que fez história na Tríplice Coroa de 2012/13, pego outra camisa da coleção, de uma época onde o Bayern corria atrás para voltar a ser grande como já havia sido nos tempos de Sepp Maier, Gerd Müller e do Kaiser Franz Beckenbauer.
A história das camisas do Bayern de Munique é algo muito peculiar. Esse uniforme de 1995 é um exemplo claro disso. Nos últimos anos é que o time bávaro manteve o padrão de usar apenas uniformes titulares com as cores vermelha e branca (ou dourado, como na temporada passada). Mas nem sempre foi assim.
O Bayern foi fundado com uniforme azul-claro, uma das cores da bandeira da Baviera. Mas como essa era também a cor do arquirrival 1860 München, a camisa titular virou branca com detalhes em grená na gola e no punho das mangas. A tradicional camisa vermelha era apenas usada como uniforme reserva.
Abaixo uma foto do museu do Bayern, mostrando uma réplica da 1a camisa do time, lado a lado com a camisa usada entre 2011 e 2013
A partir dos anos 70, virou o "samba do crioulo doido". O Bayern começou a usar uniformes titulares diferentes, como o listrado verticalmente em branco e azul; o uniforme branco com duas listras verticais, uma azul e outra vermelha, na parte direita; um uniforme branco com as listras da Adidas em vermelho e, enfim, o uniforme todo vermelho. Na mesma época, tivemos como uniformes alternativos uma camisa vermelha com listras verticais brancas finas e uma outra camisa listrada em vermelho e azul, exatamente como a camisa titular de 1995. Abaixo, fotos das camisas que o Bayern usou como 1o uniforme entre os anos 60 e 70, os anos de ouro do clube:
Nos anos 80, a única esquisitice do time de Munique foi adotar um uniforme 2 idêntico à camisa titular da Seleção Brasileira. Tudo isso por causa de uma superstição de que o Bayern nunca vence o Kaiserslautern fora de casa, e realmente era verdade. Mesmo quando o Bayern estava vivendo os seus anos de ouro lá na década de 70, sempre quando jogava com o outro time de vermelho, do oeste alemão, costumava apanhar feio. Por coincidência (ou não), quando usou um uniforme igual ao do Brasil (camisa amarela com detalhes verdes, calções azuis e meias brancas), venceu depois de anos. E o amarelo voltaria a ser usado em outras ocasiões. Mas só como suplente. O uniforme titular permaneceu vermelho por toda a década.
Em 1991 a Adidas lançou sua linha "Performance", com a logomarca que é utilizada até hoje (a das 3 listras cortadas em forma de triângulo). E mais uma mudança aconteceu no uniforme do Bayern: 3 listras azuis desciam do ombro da camisa que antes era só vermelha com detalhes brancos. E assim foi até 1995, quando resolveram ressuscitar o uniforme reserva do começo da década de 1970, mas agora como camisa titular: o Bayern agora definitivamente não era mais vermelho e branco (Rot-Weiss). Era vermelho e azul.
E 1995 estava sendo um triste ano para o Bayern. O Borussia Dortmund e seu uniforme amarelo-fluorescente consagravam-se campeões da Bundesliga. Na Liga dos Campeões, o time bávaro alcançou as semifinais, mas foi massacrado pelo Ajax de Louis Van Gaal (treinaria o próprio Bayern 14 anos depois), o finlandês Litmanen, e jovens holandeses como Kluivert, Davids e o atual maestro do Botafogo Clarence Seedorf. O Bayern levou de 5x2 jogando em pleno Estádio Olímpico de Munique. E o Ajax seria Campeão Europeu pela 4a vez e Bicampeão Mundial no fim daquele ano, contra o Grêmio.
Já usando o seu novo uniforme, o Bayern, contando com jogadores como o goleiro Oliver Kahn, o meia Mehmet Scholl, além de Jürgen Klinsmann e Lothar Matthäus, não foi capaz de segurar o Dortmund novamente na Bundesliga. Terminou em 2o lugar, 6 pontos atrás do time do Vale do Ruhr, que consagrou-se bicampeão. Na Pokal (Copa da Alemanha), o Bayern caiu logo na 2ª rodada para o Fortuna Düsseldorf, jogando fora de casa, e perdendo por 3x1.
A sorte do Bayern é que na temporada 94-95, mesmo tendo feito uma campanha pífia, o time conseguiu pegar a última vaga para a Copa UEFA (atual Europa League). E estreou nela eliminando o Lokomotiv Moscou, após perder em casa por 1x0, os bávaros não se intimidaram e golearam os russos no próprio estádio: 5x0
O próximo rival do Bayern era o frágil Raith Rovers, da Escócia. Time que havia conseguido superar Celtic e Rangers na temporada anterior, ganhando o título de campeão escocês. Mesmo assim, não conseguiu passar para a fase principal da Liga dos Campeões e acabou sendo rebaixado para a Copa UEFA. E encontrou o tradicional Bayern, que venceu na Escócia (2x0) e em Munique (2x1).
Se o Raith Rovers era um calouro, o Benfica é um veterano de longa data. O tradicional time português era o rival do Bayern na 3a fase da Copa UEFA. Mas 4 gols de Klinsmann já foram suficientes para deixar o veterano parecendo um calouro no 1o jogo em Munique, que terminou 4x1. E nem o gol do brasileiro Valdo no jogo de Lisboa foi o suficiente para evitar mais um passeio do time alemão: 3x1.
Nas quartas-de-final, outro time de vermelho bicampeão europeu esperava o Bayern. Mas esse vinha da Inglaterra, e embora suas duas Ligas dos Campeões conquistadas consecutivamente em 1979 e 1980 tivessem colocado o seu nome na história do futebol, o Nottingham Forest não era mais assustador como foi naqueles tempos de Brian Clough. O jogo em Munique foi apertado, com o time inglês empatando um minuto depois do gol de Klinsmann, mas com Scholl garantindo a vitória aos 44 do 1o tempo. Em Nottingham, um passeio do Bayern: 5x1. Agora era hora de encarar as semifinais do torneio
O jogo contra o Barcelona era como se fosse a final antecipada do torneio. Na outra chave da semi-final, jogavam o Sparta Praga e o Bordeaux (que tinha Zinedine Zidane), mas nenhum dos dois assustava tanto quanto o bicho-papão catalão, vivendo ainda resquícios da sua era de "Dream Team", quando ganhou a Liga dos Campeões em 1992 e foi soberano no Campeonato Espanhol de 91 até 94. O jogo de Munique foi uma pedreira, exatamente como se esperava. O Barcelona saiu na frente aos 14 do 1o tempo, mas o Bayern precisou apenas de 5 minutos para virar o jogo, entre os 7 e 12 do 2o tempo. Mesmo assim, o romeno Hagi ainda empatou o jogo aos 32 minutos, deixando o Barça em vantagem para o jogo no Camp Nou.
Mas a vantagem do Barcelona foi embora logo aos 40 do 1o tempo no 2o jogo, com o gol de Babbel. E o Bayern ainda ampliaria o placar, aos 39 do 2o tempo. O Barça ainda tentaria uma reação tardia aos 44, mas depois disso não houve mais nada. Bayern de Munique na final, com chances claras de ganhar um título internacional importante 20 anos depois de ter vencido o Cruzeiro na final do Mundial de Clubes.
O rival seria o Bordeaux de Zidane, e também de Bixente Lizarazu, outro francês que seria ídolo do Bayern de Munique nos anos seguintes. Naquela época, a Copa UEFA era decidida em dois jogos, na casa de cada time. E o jogo decisivo foi marcado para a França. Sabendo disso, o Bayern venceu o jogo de ida por 2x0 em Munique, gols de Helmer e Scholl.
No jogo de volta, o Bayern estreava um uniforme familiar: como o Bordeaux jogava com cores semelhantes ao uniforme titular bávaro, o time alemão criou uma nova versão da camisa branca utilizada nos anos 70, a que tinha duas faixas verticais, uma vermelha e outra azul (uniforme que procuro para a Mantoteca). Usando uma camisa que remetia a era de ouro do clube, o Bayern não teve dificuldades de vencer o 2o jogo, ganhando por 2x0 até os 31 minutos do 2o tempo, quando o time da casa descontou. Klinsmann faria o 3o gol, o gol do título, dois minutos depois, e a vitória por 3x1 daria o troféu da Copa UEFA para o Bayern, encerrando o jejum de duas décadas sem títulos internacionais.
Abaixo, a foto do modelo de uniforme utilizado na final.
O título da Copa UEFA salvaria a temporada do Bayern, que continuaria a jogar com seu uniforme listrado na temporada seguinte (costume que o Bayern manteve até 2009, quando trocou de uniforme titular apenas uma temporada depois). O vice-campeonato de 96 na Bundesliga fez com que o Bayern jogasse novamente a competição, mas dessa vez o final foi trágico. Logo na primeira rodada, a eliminação para o Valencia, depois de levar 3x0 na Espanha. A vitória por 1x0 em casa seria inútil (4 anos depois o Bayern se vingaria do time espanhol em alto estilo, mas isso é outra história)
Na Pokal 1996-97, vitórias sobre rivais tradicionais como o Borussia Mönchengladbach fora de casa (2x1), Werder Bremen em casa (3x1), até ser eliminado pelo Karlsruhe por 1x0, jogando na cidade do time de azul.
Na Bundesliga, era hora de acabar com a soberania do Borussia Dortmund, que vinha com um elenco forte buscar o tricampeonato. E com 71 pontos, o Bayern voltava a vencer o título nacional. O Bayer Leverkusen ficou apenas 2 pontos atrás e o Borussia Dortmund ficou em 3o, com 8 pontos atrás.
Abaixo, uma foto de um dos jogos entre Bayern e Dortmund pela Bundesliga 97-98, a discussão entre 2 craques alemães: Matthäus e Möller
Porém, o título do Bayern seria ofuscado por dois outros alemães. Pela Copa UEFA, o Schalke 04, que não ganhava algo relevante desde 1958, quando ganhou seu último campeonato alemão (até hoje nunca mais voltou a vencer esse título), consagrava-se campeão continental pela primeira e única vez.
E ainda havia coisa pior. Jogando a final em pleno Estádio Olímpico de Munique, o Borussia Dortmund levantava o título de Campeão da Liga dos Campeões pela primeira vez em sua história. Em cima da forte Juventus, que defendia o título. Ainda igualaria o time bávaro ganhando no fim daquele ano o Mundial de Clubes, e por coincidência, em cima do mesmo Cruzeiro que perdeu em 1976 para o Bayern.
A promessa para a temporada 1997-98 era azul. Literalmente. Se o uniforme listrado utilizado nos últimos dois anos pelo Bayern não tinha muito a ver com sua história, o que dizer do uniforme azul-marinho com detalhes vermelhos utilizado como titular a partir de 1997 até 99? Essa foto é de um exemplar da Mantoteca, que está a venda por não ser do meu tamanho (alguém interessado?)
Bem, por hoje encerro este post de honra em homenagem a mais um título do Bayern de Munique, lembrando de um tempo onde as coisas eram bem mais difíceis. Hora de voltar para a realidade, para o atual Bayern que veste vermelho e joga um futebol bonito. Abraços e até a próxima!
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