sexta-feira, 29 de abril de 2016

Camisa 3 - Tradição ou inovação?

   Nesta semana estive em São Paulo e aproveitei para conhecer a Mooca, lar do tradicional Juventus paulista. Como sempre quis ter uma camisa do time juventino, fui até a Camiseteria di Mooca, loja oficial de uniformes do clube para comprar a tradicional camisa grená, mas acabei mesmo levando outra: a camisa 3 azul. Sim, azul!

  
   O Juventus sempre foi um time que prezou muito pela manutenção de suas tradições e um de seus lemas é "Morte eterna ao futebol moderno". Mas em Julho do ano passado, para homenagear o aniversário de 459 anos da Mooca (cuja bandeira é azul), lançou este polêmico terceiro uniforme, que de certa forma também homenageia a camisa da seleção da Itália, pátria dos imigrantes fundadores do clube. Mesmo assim, o rompimento das tradições causou um escândalo entre os torcedores juventinos, que vetaram o uso da camisa em partidas oficiais. De qualquer forma, a camisa acabou sendo um relativo sucesso de vendas e sempre está presente nas arquibancadas da Rua Javari.


   Não é a primeira vez que uma camisa três é vetada pelo rompimento das tradições do clube. Em 1997, a Umbro chegou a colocar um inovador terceiro uniforme do Flamengo nas lojas, mas sem a aprovação do Conselho Deliberativo. A diretoria do time da Gávea proibiu que o uniforme fosse utilizado em jogos oficiais e mandou retirá-lo do comércio. O azul e amarelo homenageavam as primeiras cores do clube, em 1895, ainda no remo. E em 2010 uma outra tentativa de lançar um uniforme com tais cores obteve mais sucesso, embora a camisa fosse estigmatizada como "Tabajara", por causa de sua semelhança com o uniforme do time fictício dos humoristas do "Casseta & Planeta".





  
   Na Europa, o uso do uniforme 3 era constante pela década de 80, mas foi somente na década de 90 que os experimentos com cores e designs fora do comum se iniciaram. A camisa do Manchester United acima, do acervo da Mantoteca, é um exemplo. Lançada em 1994, ela prestava homenagem aos ídolos do time até então, com o nome de cada um impresso nas listras horizontais. Também fazia referência à final de 1968 da Copa Europeia (atual Liga dos Campeões), quando o United bateu o Benfica usando uma camisa toda azul. Foi nessa época que os terceiros uniformes também começaram a se popularizar no Brasil. E também a polêmica de tradição versus inovação.




  Alguns times não se arriscam muito na hora de lançar seus uniformes 3. O Fluminense lançou uma camisa três em 2001 toda laranja, mas a mesma foi vetada de ser utilizada em jogos oficiais por não ter uma das três cores tradicionais do clube. Mesmo assim, foi um sucesso de vendas. A camisa três acima, lançada 10 anos depois, teve certa resistência por causa do uso do dourado, mas também foi um êxito imenso nas vendas e foi muito utilizada em campo, inclusive na campanha vitoriosa do Brasileiro de 2012, o que fez a camisa entrar para a história do clube. De certa forma, o sucesso da camisa três anterior deve ter encorajado os dirigentes tricolores no ano seguinte de finalmente lançar uma nova camisa laranja e botá-la em jogos oficiais. A inovação estava se entendendo com a tradição.



 
   Mas as vezes a tradição não é a melhor escolha. Em 2005, ano do centenário do clube, o Boca Juniors resolveu relançar um de seus primeiros uniformes como camisa 3. Só que o problema era esse: a camisa em questão possuía uma faixa diagonal que remetia ao arquirrival River Plate. Chegou a entrar em campo em amistosos, mas foi um fracasso gigantesco em vendas. Camisas xeneizes mais exóticas, como o uniforme 3 roxo de 2013 ou o fluorescente do mesmo ano foram muito mais bem recebidos que a infame camisa acima.

   Tradição e inovação. Uniformes novos sempre vão atrair a atenção de seus torcedores, para o bem ou para o mal. Por isso as camisas três estão onipresentes no futebol moderno. Sua influência é tão forte que hoje em dia é comum ver um time lançar até quatro ou cinco modelos diferentes na mesma temporada. O Palmeiras em 2014 lançou quatro uniformes diferentes para celebrar o seu centenário. O dinheiro que uma camisa nova bem-sucedida rende também é uma tentação para as fornecedoras, que sempre buscarão inovar, mas será que vale a pena abrir mão da tradição para ter mais dinheiro na mão?

Um comentário:

  1. Gosto das tradições dos uniformes,contam uma história incomparável, mas o futebol muda constantemente. E alguns clubes não estão totalmente adaptados aos novos tempos

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