Como disse no último post, aqui (atrasado) está mais um Post de Honra. E mais uma vez homenageando o Bayern de Munique, que conquistou mês passado o seu 5o título no ano: o Mundial de Clubes. Com ele, o time alemão iguala-se a Internazionale de 2010, que também conseguiu uma "Quíntupla Coroa" (Calcio, Copa da Itália, UCL - em cima do Bayern, Supercopa Italiana e Mundial), mas pode-se considerar a série de conquistas do time bávaro mais importante do que a do time italiano, já que a Supercopa que o Bayern conquistou foi a Europeia (a Inter perdeu para o Atlético de Madri em 2010). Mesmo assim, o Bayern falhou em igualar o Barcelona de 2009, único time que conquistou tudo o que disputou (incluindo as duas Supercopas). A derrota de 4x2 para o Borussia Dortmund em Julho na Supercopa Alemã impediu que o time vermelho igualasse aquele Barça que era treinado por Pep Guardiola, o atual comandante do time de Munique.
Mas o Bayern atual não será o assunto do Post de Honra. O time alemão já foi homenageado aqui quando ganhou a Supercopa Europeia em Agosto (confira aqui) e o Post de hoje começa exatamente onde o outro terminou: na temporada 1997/1998, quando o Bayern inovou mais uma vez com seu uniforme titular, tornando-se predominantemente azul
Esse exemplar é uma camisa tamanho P que consegui aqui em Munique numa das inúmeras lojas de roupas de segunda mão que existem aqui (aguardem o Guia de Compras Mantoteca sobre a Alemanha para maiores detalhes). A camisa está em perfeito estado, só que não cabe em mim e por isso estou me desfazendo dela (se houver interesse, pode contactar). Mas, terminando o momento "jabá", voltamos a falar sobre o time de 1997. Naquele ano o Schalke 04 havia conquistado a Copa UEFA e o Borussia Dortmund ganharia a Champions League, juntamente com o Mundial (falhando na Supercopa Europeia, onde foi derrotado pelo Barcelona de Ronaldo, ainda magro). O Bayern ficou só com o título alemão daquele ano.
O uniforme novo sucedia o listrado em azul e vermelho e era mais inovador do que o anterior, já que era a primeira vez depois de muito tempo em que o azul era a cor predominante na camisa titular do Bayern, mais detalhes sobre isso no primeiro post feito homenageando a equipe. A camisa reserva continuava a ser a branca com as duas listras verticais vermelha e azul no lado direito e não houve um terceiro uniforme naquela temporada.
O mais interessante é que nem Dortmund e nem o Schalke foram as principais ameaças na Bundesliga 1997-98, o time amarelo terminaria na 10a posição e a equipe azul ficaria em 5o. O time que foi o principal concorrente do Bayern no torneio local foi o Kaiserslautern, que contava com jogadores como o atacante tcheco Kuka, o meia campeão do Mundo em 1990 Andreas Brehme e um certo jovem chamado Michael Ballack. O Kaiserslautern sempre foi uma pedra no sapato do Bayern, até mesmo nos anos 70, onde o time bávaro dificilmente vencia jogando no domínio do time de Rheinland-Pfalz. Na temporada 97-98, o Bayern não conseguiu ganhar nenhum dos jogos contra os "Die Roten Teufel" ("Os Diabos Vermelhos), perdendo fora por 2x0 e em casa por 1x0. Depois de 7 anos, o Kaiserslautern voltava a ser campeão, ganhando sua quarta e última Bundesliga. E o Bayern ficou apenas com o vice-campeonato, só dois pontos atrás do campeão. Abaixo, os jogos de Bayern X Kaiserslautern naquela temporada:
Vale lembrar que em 1997 foi disputada a 1a edição da Copa da Liga Alemã, em Julho daquele ano. Nesse torneio entravam apenas o atual campeão da Bundesliga (o Bayern), o campeão da Copa Alemã (Stuttgart), além dos outros 4 melhores times da Liga. O Bayern estreou contra o Borussia Dortmund jogando em Augsburg e venceu por 2x0, gols de Élber e Babbel. Foi para a final contra o Stuttgart, que foi disputada em Leverkusen. A Copa da Liga Alemã foi criada para substituir a Supercopa Alemã, mas a final do torneio acabou mesmo tornando-se um tira-teima entre o Campeão da Liga e o Campeão da Copa. O Bayern repetiu o placar do 1o jogo, com gols de Basler e Élber, e ganhou o jogo, sagrando-se campeão do novo torneio
Na Copa da Alemanha, o Bayern começou encarando o inexpressivo DFK Waldberg, do norte da Baviera. Aplicou uma goleada impiedosa de 16x1. Na fase seguinte, encarou o Wolfsburg na casa deles, num jogo em que terminou empatado por 3x3 e foi decidido apenas nos pênaltis, com vitória bávara por 4x3. Pelas oitavas, o duelo que marcou aquela temporada: Bayern x Kaiserslautern na casa dos Diabos Vermelhos. Ao contrário do que aconteceu nos jogos da Bundesliga, o Bayern levou a melhor e bateu o rival por 2x1.
Pelas quartas-de-final, o Bayern recebeu o Bayer Leverkusen em Munique, onde venceu por 2x0. A semifinal repetiria o duelo da final da Copa da Liga, mais uma vez o Stuttgart estava no caminho do Bayern. Mas o time bávaro, jogando novamente em casa, não deu chances ao campeão da Copa anterior: vitória por 3x0.
Após passar por times mais conhecidos, o Bayern encarou na final em Berlim o MSV Duisburg, time que costumava oscilar entre a 1a e a 2a divisão da Bundesliga (e hoje está na 3a divisão). Mas o jogo não foi fácil: o togolês Salou abriu o placar para o Duisburg logo no início do 1o tempo. O Bayern apenas conseguiu empatar aos 25 do 2o tempo, com Babbel. E apenas aos 44 minutos veio o gol do título, marcado por Basler e consagrando a vitória de virada do Bayern. Após 12 anos de jejum no torneio, o Bayern de Munique voltava a levantar a taça da DFB-Pokal.
Como havia sido campeão da Bundesliga na temporada 96/97, o Bayern também disputou a UEFA Champions League em 1997/98. Estreou na fase de grupos em casa contra o Besiktas da Turquia, vencendo por 2x0 (gols de Helmer e Basler). Na Suécia, venceu o Gotemburgo por 3x1 (gols de Jancker, Hamann e Élber). E de volta a Munique, massacrou o Paris Saint-Germain por 5x1 (2 de Élber, 2 de Jancker e 1 gol de Helmer). No returno, perdeu para o PSG em Paris por 3x1, venceu novamente o Besiktas por 2x0, agora em Istambul e perdeu na última rodada para o Gotemburgo em Munique por 1x0, como mostra o vídeo abaixo. Terminou empatado em pontos com o Paris Saint-Germain, mas acabou levando vantagem no saldo de gols e acabou a fase de grupos em 1o lugar.
O Bayern encarou o arquirrival Borussia Dortmund nas oitavas-de-final. O caminho para voltar a brilhar na Europa dependia de vitória sobre o time amarelo, que estava mal das pernas na Bundesliga. O jogo em Munique terminou 0x0. E em Dortmund, o jogo também acabou com o mesmo placar, sendo levado à prorrogação. Ao contrário do que vimos nesse ano de 2013, naquela vez o BVB é que levou a melhor: um gol do suíço Chapuisat aos 4 do 2o tempo da prorrogação selaria a derrota e eliminação do Bayern da Champions League. A fila para conquistar o maior título da Europa aumentava. Abaixo, foto do jogo:
Felizmente para os bávaros, a dor de ver o Dortmund sendo campeão não ocorreria. O Real Madrid eliminaria o time alemão nas quartas e seria campeão daquele torneio, quebrando um jejum de 32 anos sem levantar a "Orelhuda". Com o vice-campeonato da temporada 97/98, o Bayern estaria novamente disputando a Champions League. Era hora de ganhar!
Para a nova temporada, a camisa titular foi mantida. Porém, o Bayern ganhou novas camisas alternativas. A camisa reserva ganhou um desenho diferente, e a camisa III, feita para ser usada na Champions, ganhou a inédita cor cinza. Abaixo, fotos das duas camisas
Na Copa da Liga de 1998, torneio que abriu a temporada, o Bayern estreou nas semis contra o Leverkusen, que acabou derrotado com um gol de Basler. Na final, como no ano anterior, mais uma vez encontrou o Stuttgart, que havia despachado o atual campeão alemão Kaiserslautern nas semis. E como em 97, o Bayern venceu e foi bicampeão do torneio: 4x0 no time de Baden-Württemberg, com hattrick do brasileiro Élber e o gol final de Jancker.
Na Bundesliga, o Bayern não teve dificuldades de reconquistar o título que fora tirado de suas mãos pelo Kaiserslautern na temporada anterior. O time de Rheinland-Pfalz apenas terminou na 5a colocação, 21 pontos atrás do time de Munique. O vice-campeão de 1998-99 foi o Bayer Leverkusen, que ficou 15 pontos atrás do Bayern. Mas um dos momentos marcantes daquele torneio foi mesmo a fúria do goleiro Oliver Kahn contra o Borussia Dortmund, no jogo disputado na cidade do time amarelo que terminou empatado em 2x2. O goleirão do Bayern deu uma voadora de kung-fu no suíço Chapuisat.
Na Copa da Alemanha, buscando o bi, o Bayern estreou contra o Ahlen, time do noroeste alemão. Conseguiu uma fácil vitória por 5x0. Na fase seguinte, enfrentou o Greuther Fürth, do norte da Baviera, time muito tradicional no passado do Campeonato Alemão. O clássico regional acabou empatado em 0x0 e foi para os pênaltis, onde o Bayern conseguiu a vitória por 4x3. Nas oitavas de final, a reedição da finalíssima do ano anterior: Duisburg x Bayern, na casa do rival. O Bayern não teve tanta dificuldade como na final em Berlim e conseguiu vitória por 4x2, avançando para as quartas-de-final.
E nas quartas, mais uma vez o Stuttgart aparecia no caminho. Mais uma vez, o Stuttgart era surrado pelo Bayern. Em jogo disputado no Estádio Olímpico de Munique, o time bávaro fez 3x0 e carimbou a passagem para as semis. E no penúltimo passo para chegar a final, o adversário parecia ser mais fácil que o anterior: afinal, o Rot-Weiss Oberhausen, cuja cidade-sede, na região do rio Ruhr, ficou mais conhecida em 2010, onde seu zoológico abrigou o polvo profeta Paul. O jogo, disputado em Gelsenkirchen, no estádio do Schalke 04, teve até um princípio de resistência do time da região, mas o Bayern acabou ganhando por 3x1 e novamente estava na final do torneio.
O rival em Berlim seria o Werder Bremen, que havia vencido o Wolfsburg na outra semifinal. No dia 12 de Junho de 1999, no Estádio Olímpico berlinense, o meia ucraniano Maximov abriu o placar para o time verde, aos 4 do 1o tempo. Jancker empatou no final da 1a etapa. O jogo terminaria 1x1 mesmo depois do fim do tempo regulamentar e da prorrogação, levando a partida para os pênaltis. Nas primeiras cobranças, acertos dos dois times. Na segunda cobrança, Todt do Bremen teve seu pênalti defendido por Kahn, enquanto o iraniano Ali Daei anotou sua cobrança, deixando o Bayern na frente. Nas 3as e 4as cobranças, acertos para os dois lados. O Bayern ficava a apenas um acerto de levar o bicampeonato da Copa, mas Stefan Effenberg isolou sua cobrança. O acerto de Eilts para o Bremen levava a disputa para as cobranças alternadas, aonde ninguém mais poderia perder. Rost, o goleiro do Bremen acertou a cobrança, e o capitão do Bayern, Lothar Matthäus tinha a obrigação de acertar para continuar a disputa. Mas o dia era de Rost. O dia era do Werder Bremen. O goleiro do time da beira do rio Weser defendeu e virou o herói do jogo. O Bayern perdia de forma extremamente dramática. Mas nada podia superar o drama ocorrido semanas antes, na Liga dos Campeões.
O Bayern de Munique estreava na Champions League de 1998-99 no playoff contra o Obilic, da Sérvia (na época, Iugoslávia). Era necessário vencer para ir até a fase de grupos. O time sérvio não teve chances em Munique, perdendo de 4x0. E apenas empatou em Belgrado por 1x1, o que classificava o Bayern
O grupo do Bayern tinha duas pedreiras: o Manchester United comandado por Sir Alex Ferguson (na época, em seu 13o ano na equipe) e o Barcelona de Rivaldo. O dinamarquês Brondby era o azarão, mas mesmo assim conseguiu derrotar o time de Munique na estreia por 2x1, em Copenhague.
Na segunda rodada, o Bayern encarou o United em Munique. Saiu na frente com Élber, mas Giovanni e Scholes viraram o jogo. Nos acréscimos do segundo tempo, Sheringham marcou um gol contra (isso mesmo). O jogo terminou empatado. Anotem essas palavras: "Sheringham" e "acréscimos", continuem lendo e vejam como o destino no futebol pode dar reviravoltas cruéis.
O Bayern disputava mais um jogo em Munique com a obrigação de ganhar. O forte Barcelona liderava o grupo e isso poderia complicar os alemães. Um gol de Effenberg resolveu a parada: 1x0 Bayern foi o placar final. A fama de "Bestia Negra", apelido dado pela imprensa espanhola ao Bayern, pelo fato de sempre fazer jogo duro contra os times ibéricos, confirmaria-se na bela vitória de 2x1 sobre os donos da casa no Camp Nou. Giovanni (ex-Santos) abriu o placar, mas Zickler empatou e Salihamdzic, quase no fim do jogo, virou a partida. Resultado importante, pois o Manchester United se isolava na liderança e o Bayern garantia pelo menos o 2o lugar no grupo.
O próximo jogo em Munique era fundamental para a classificação para o mata-mata. Afinal, o Brondby já estava praticamente eliminado. O Bayern facilmente fez 2x0 com Jancker e Basler, terminando assim. Os bávaros então foram até Old Trafford quase classificados. E lá, novo empate contra os Red Devils, após o time da casa sair na frente com Roy Keane, Salihamidzic empatou o jogo. Os dois estavam na fase final, com o Bayern em primeiro e o United em segundo (sendo que só os 2 melhores vices de cada grupo passavam para o mata-mata).
O primeiro duelo do Bayern era a chance de uma vingança da Bundesliga da temporada anterior: era o tira-teima com o Kaiserslautern. No primeiro jogo, Élber e Effenberg fizeram fáceis 2x0 em Munique. E em Kaiserslautern, local onde o Bayern historicamente tem dificuldades de vencer, uma surpreendente vitória de 4x0 bávara para confirmar a classificação. Gols de Effenberg, Jancker, Rösler (contra) e Basler. O Bayern avançava para as semis
O adversário seguinte do Bayern também não era fácil. O Dínamo de Kiev havia despachado o campeão anterior Real Madrid com a ajuda de seu centroavante Shevchenko. O jogo em Kiev foi dramático: Shevchenko fez dois gols e botou o Dínamo na frente, Tarnat ainda diminuiria no fim do primeiro tempo para o Bayern. No segundo tempo, Kosovsky ampliou para o Dínamo, que abriu 3x1. Com um gol de Effenberg aos 32 e outro de Jancker aos 42, o Bayern conseguiu buscar o tão improvável empate. A volta em Munique não foi recheada de gols como na ida, mas o gol solitário de Basler fazia o Bayern voltar a uma final de Liga dos Campeões depois de 12 anos de espera.
A final de 26 de Maio de 1999 trazia um velho conhecido do Bayern naquele torneio: o Manchester United. O rival daquele jogo que seria disputado em Barcelona havia ficado atrás dos bávaros na fase de grupos, mas nenhum dos dois times havia vencido seus jogos entre si: foram dois empates. Era a hora do tira-teima. O Manchester não ganhava uma Liga dos Campeões desde quando jogou de azul contra o Benfica em 1968. E o Bayern estava na fila desde aquele dia de 1976 em que venceram o Saint Etienne. Foi então que uma das finais europeias mais emblemáticas de todos os tempos teve início.
Logo aos 6 minutos de jogo, Mario Basler abriu o placar numa cobrança de falta. E o jogo ficaria amarrado até o final, dando certeza até para os torcedores do Manchester que a taça da Liga dos Campeões iria para Munique. Alguns parágrafos atrás pedi para que guardassem as palavras "Sheringham" e "acréscimos". Pois então, Teddy Sheringham tinha entrado aos 12 do segundo tempo no time do Manchester e não havia ameaçado tanto a meta adversário. Mas aos 46, já nos acréscimos, já quando o Bayern colocava o último dedo que faltava na taça, ele empurrou uma bola para o gol. E dessa vez, não foi gol contra. O empate já era um milagre naquelas circunstâncias! E o torcedor do Manchester respirava aliviado pelos 30 minutos que viriam, onde tudo poderia acontecer.
Mas está escrito na história do futebol. E todos os apreciadores sabem que nunca houve prorrogação naquele jogo. Dois minutos depois, em outra bola alçada na área do Bayern, o norueguês Solskjaer fez com que todo o peso do mundo fosse tirado das costas do torcedor dos Red Devils. Uma virada de dois minutos, nos acréscimos, devolvia o título de melhor time da Europa para o Manchester United 31 anos depois. O trauma do torcedor do Bayern com essa derrota é tão grande que até hoje, mesmo depois de derrotas tão amargas quanto a de 2012, contra o também inglês Chelsea jogando em Munique, esse jogo é considerado o mais doloroso da história do clube. No museu do Bayern, na Allianz Arena, há um local que relembra esse jogo, onde está escrito: "a mãe de todas as derrotas".
Depois disso, ainda haveria a derrota também sofrida na final da Copa da Alemanha (já citada) e mesmo o título recuperado da Bundesliga não seria capaz de sanar a dor daquele dia fatídico de Maio. E o Bayern, para a temporada 1999-2000, aposentava a camisa azul que foi usada como modelo titular durante dois anos, voltando a usar uma camisa vermelha como uniforme principal. O uniforme cinza da triste final da Liga dos Campeões, ao contrário do que disse na primeira publicação, voltaria a ser utilizado até a temporada 2000-01, quando o Bayern teria sua revanche contra o Manchester United no mata-mata daquela Champions. Depois daquilo, o time nunca mais teve um uniforme daquela cor
Com o novo uniforme, o Bayern ganharia por mais duas vezes a Bundesliga, sendo tricampeão consecutivo. E em 2001 o tão esperado título da Liga dos Campeões chegaria, marcando uma nova era de vitórias do time. Mas essa é história para outra postagem.
Espero que tenham gostado do post, mesmo com o atraso.
Abraços!